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A filha desconhecida |
Cada um entrou em seu carro e seguimos para a casa do Leonardo, onde me levou
para conhecer sua filha, da qual nunca havia me falado sobre sua existência.
Tudo não passou de um mal entendido, e aquela loira que o abraçou naquele dia
era fruto de um namoro na adolescência, resultado em uma linda mulher com a
mesma idade que eu.
Ao cruzarmos o portão, o Leonardo comentou:
-Não se
preocupe, a Fernanda já está sabendo sobre nós.
-Você
contou?
-Claro...
Você já é parte de minha vida.
-E o que
ela achou?
-Não tem
o que achar, nem aceitar. Basta respeitar.
-Você é
perfeito!
Entrei em sua casa, tímido como se fosse a primeira vez. Sorrindo, a Fernanda
descia à escada, enquanto o Leonardo fechava à porta entusiasmado:
-Nanda!...
Esse é o Claus.
-Oi,
Claus!
-Oi!
Cumprimentamo-nos com um beijo no rosto. Nossa! De perto ela era mais linda do
que aparentava ser de longe, praticamente uma modelo. Alta, cabelos loiros com
mechas claras e seios proporcionais. Jamais eu diria, ou até mesmo alguém de
fora, que o Leonardo pudesse ter uma filha assim, tão bela e jovem quanto ao
pai.
-Sabe que
meu pai falava muito de você? - Disse a Fernanda sentando-se ao sofá.
-Estou
sabendo agora... Ele não havia me contado sobre sua existência.
-Sei que
não. Na verdade eu pedi para que ele não contasse por enquanto.
-Você?
-É... Mas
não se preocupe, nada contra você.
Seguindo em direção ao seu quarto, o Leonardo falou:
-Fiquem
ai conversando que eu já venho.
Com o olhar de surpresa, a Fernanda apontou para o sofá e falou-me:
-Pode se
sentar...
-Obrigado!...
Das vezes que eu vim aqui, nunca tinha te visto. E olha que não foram poucas...
-É que eu
não moro aqui.
-Não?
-Não. Só
venho pra São Paulo nas férias. Vivo com a minha mãe em Blumenau.
-Ah
sim... Nossa! Você é muita bonita.
-Obrigada!
Levantando-se do sofá, ela falou:
-Eu
preciso tomar um banho porque vou dar uma saidinha...
-Tudo
bem.
-Claus,
foi um prazer conhecê-lo. - Falou cumprimentando-me com um beijo.
-O prazer
foi meu.
-Quero te
pedir uma coisa...
-O quê?
-Faça meu
pai feliz, por favor... Ele merece.
-Farei
dele o homem mais feliz do mundo.
-Obrigada!
Logo que ela subiu, cruzou com o Leonardo na escada. Estando tudo esclarecido,
meu peito ficou mais aliviado. Ainda sentado ao sofá, continuei esperando pelo
meu grande amor, que se sentou junto a mim abraçando-me bem forte.
-Se você
soubesse o tamanho do amor que eu sinto por você...
-A gente
até pode não acreditar, mas destino existe e ele não nos colocou frente a
frente a toa.
- Falei dando um beijo em seu braço.
-De forma
alguma. Amanhã eu vou levar as crianças pra casa da Talita, e depois eu vou te
buscar para vim definitivamente morar comigo.
-Elas
estão aqui?
-Sim...
Lá fora com a Cláudia.
Suspirei fundo e disse em seguida:
-Leo...
Preciso te contar o que descobri.
-Conte?
-A
Giovana... Estava sendo abusada.
-Abusada?
-Molestada
pelo professor.
Afastando-se de mim, ele questionou:
-Do que
você está falando?
Caminhei em direção à janela. Afastei a cortina e olhando para o jardim,
falava:
-Achei
muito estranho essa mudança de comportamento da sua filha que ninguém entendia,
então resolvi investigar... Pesquisei na internet, fui até a escola, conversei
com a mãe de uma colega da Giovana e suspeitava que fosse algo relacionado a
pedofilia.
-Pedofilia?
-É...
Alguns dias depois consegui finalmente a certeza de que minhas suspeitas
estavam certas, e formalizei uma denúncia na delegacia contra o professor.
-Filho
da...
-Calma,
não se preocupe que ele já foi preso.
-Como
descobriram?
-Eu levei
as provas, além do mais, quando chegaram na casa dele encontraram em flagrante
com uma garota de dez anos...
-Canalha!
-Além de
vários brinquedos, doces e fotos escondidos dentro de um armário.
-Eu não
acredito que esse cara foi capas de...
-Calma...
Embora ele tivesse tentado, não deve ter conseguido ir até os “finalmentes” com
as crianças do colégio.
-Como
você em certeza?
-Porque o
colégio tem muitas câmeras, e ele não poderia entrar no banheiro feminino, né?
-Estou
muito preocupado... Vou levar minha filha ao pediatra essa semana.
-De
qualquer forma, reúna os pais das crianças e leve para fazer corpo de delito...
-Vou
fazer isso hoje mesmo.
-Depois
seria interessante procurar um psicólogo para ajudar ela a tratar esse trauma...
A cara que o Leonardo fez cortou-me o coração. Claro que até eu em seu lugar
pensaria milhões de besteiras, mas o criminoso já estava pagando pelo crime que
havia cometido, e naquele momento o mais importante era a saúde e bem estar de
sua filha.
Cheguei no flat dando pulos de
alegria, pois eu e meu amor fizemos as pazes e, dessa vez, nada nem ninguém
iria nos impedir de viver o pleno amor. Assim como dizia minha avó: “Alegria de
pobre dura pouco”. Não demorou para que sua frase me provasse veracidade.
Cruzei a porta da recepção e imediatamente fui abordado pelo Emerson:
-Claus!...
Tem alguém aguardando você.
-Quem?
-Está na
sala de espera...
Pelo jeito, deveria ser a safada da Talita. Caminhei até a sala de espera
furioso, querendo mandá-la tomar no cu. Para minha surpresa e alívio, logo
avistei minha visita. Era o delegado.
-Claus!
-Doutor...
O que lhe trás aqui?
-Bem...
Confesso que o motivo não é muito animador...
-Algo a
ver com o pedófilo e...
-Não, não...
-Então o
quê?
-Podemos
conversar em algum local mais reservado?
-Claro!
Vamos até meu apartamento...
Fechei à porta. Pedi para que sentasse ao sofá, oferecendo um café logo em
seguida. Sentei-me, cabreiro, apreensivo para saber o que se passava.
-Então,
doutor...
-Claus...
Recebemos uma denúncia de que você saberia do paradeiro de Vera Carvalho.
-Mas quem
é Vera Carvalho?
-Vera
Carvalho trabalhava na casa do doutor Leonardo Darvi...
-A
empregada?
-Sim.
-Mas eu
mal a conheço... Não faço ideia de onde possa estar aquela senhora.
-Tem
certeza?
Merda! Agora ele ia começar a me jogar uma pressão psicológica para ver se eu
caia, mas eu precisava me controlar, sendo firme nas respostas.
-Não
tenho vínculo algum com ela, por isso não posso lhe dizer de fato onde está.
Ela é simplesmente empregada do meu namorado.
-E se eu
te disser que alguém viu ela entrando nesse flat no dia em que desapareceu?
-Quanto a
isso não posso afirmar ou negar, porque eu nem estava em casa.
-Mas eu
nem te contei qual foi o dia que ela desapareceu.
-Mas o
Leonardo me contou. Doutor, se o senhor está tentando encontrar um culpado para
o sumiço dessa cidadã, acho que deverá bater em outra porta. - Falei levantando-me.
Caminhando em direção a saída, ele concluiu:
-Senhor
Claus, esse caso entrará sob investigação. Assim que necessário, retornarei.
-Desejo
um bom trabalho ao senhor, e que solucione o caso o quanto antes.
-Até
mais.
-Até.
Inferno! Provavelmente aquela cascavel da Talita era a responsável por me
denunciar quanto ao desaparecimento da Vera. A princípio eu não tinha com o que
me preocupar, pois nenhuma prova havia contra mim, nem mesmo morte comprovada,
por não haver corpo.
No outro dia acordei por volta das nove da manhã, ou melhor, levantei da cama,
pois dormir mesmo não consegui. Liguei na recepção e já informei que estava
deixando o apartamento naquele mesmo dia, e não demorou muito para o Emerson
bater à minha porta cobrando satisfações.
-Sim?
-Diz que
isso não é verdade?
- Questionou entrando sem pedir licença.
-O que
não é verdade?
-Que você
está indo embora.
-Sim, é
verdade.
-Não pode
ser...
-Por que
não?
-Porque
eu te amo!
-Emerson,
nós já conversamos sobre isso, lembra?
Caminhando de um lado pro outro, dizia chorando feito um maluco:
-Ninguém
te ama mais que eu nessa vida...
-Não seja
tão arrogante assim.
-Por você
eu fiz besteiras, superei meus limites.
-Eu não
pedi pra você terminar seu noivado, e muito menos prometi algo.
Segurando em meu braço, ele falou olhando em meus olhos:
-Por amor
eu tirei uma vida.
-Vida?...
Do que você está falando? - Questionei soltando meu braço após um movimento brusco.
-Você
lembra da empregada do seu namorado?
-Da Vera?
-Sei lá
se é esse o nome dela...
Percebi que ele estava transtornado, maluco. Os pontos começaram a se ligar e
ficarem mais claros. Os fatos e respostas das perguntas que não queriam se
calar, finalmente começaram a ser reveladas, deixando-me abismado tanto quanto
já estava:
-Naquele
dia, aquela mulher chegou aqui transtornada...
Entrando na recepção sem saber pra onde ir, gritou no balcão:
-Eu quero
falar com o Leonardo, sei que ele está vindo pra cá...
-Senhora...
Em que apartamento ele está hospedado? - Questionou o Emerson.
-Ele vem
pra falar com Claus...
-Então é
no décimo nono andar...
Sem que ele conseguisse segura-la, a Vera correu até o elevador. Para conte-la,
o Emerson foi atrás dela. Estando ambos dentro do elevador, ele tentou
impedi-la de fazer uma besteira:
-Por
favor, espere por eles na recepção...
-Não...
Ele não vai mais enganar o meu doutor...
-O que
você pensa em fazer?
-Vou
contar toda a verdade... Ele vai se dar muito mal por ter enganado meu doutor.
-Ele
quem?
-O
Claus... Qual é o apartamento dele?
-É aquele
ali. -
Disse o Emerson apontando para a porta.
Parada frente a porta de minha casa, ela disse nervosa:
-Saia
daqui e me deixe sozinha.
-Por
favor, não faça escândalos...
-Só
porque você quer...
Tirando a chave reserva de seu bolso, o Emerson abriu à porta de meu
apartamento e falou a ela:
-Espere
por ele aqui...
-Obrigada.
Assim que a Vera entrou ele fechou à porta. Pegou um copo que estava sobre a
pia da cozinha e acertou sua cabeça. Imediatamente ela desfaleceu com a
pancada. Vendo-a sangrar esticada no chão, deixou meu apartamento levando o
copo.
Abismado, perguntei:
-Mas por
que você fez isso, Emerson?
-Por
amor.
-E como
você conseguiu a chave do meu apartamento?
-Nós
funcionários temos um cartão que abre todas as portas, por segurança.
Sentei-me ao sofá, abismado. Com a mão à boca, comentei:
-E eu
pensando que tinha sido a Talita que...
-Por
favor, Claus... Entenda que fiz isso por amor.
-Ninguém
mata por amor.
-Mas mata
para proteger um amor. - Disse ele aproximando-se de mim.
-Tire a
mão de mim!
- Gritei afastando-me do Emerson.
Chorando, ele levou sua mão ao rosto. Confesso que tive medo, muito medo. Se
ele era capas de matar como fez com a Vera, provavelmente poderia fazer comigo
coisa pior. Pra variar, eu não poderia denunciá-lo, pois ele sabia das minhas
falcatruas e cabia uma denúncia formal, principalmente pelo roubo da tela na
casa do Leonardo.
Definitivamente eu estava ferrado. Sem saber o que fazer, caminhei apressado
até a porta, abri e disse a ele morrendo de medo:
-Emerson...
Eu preciso pensar...
-Pensar
em quê?
-Na minha
vida que você acabou de destruir. Por favor, me deixe sozinho?
-Eu vou
me entregar a policia, Claus.
-O quê?
-Não se
preocupe, não direi nada sobre você...
-Por
favor, não faça isso por enquanto.
-O que
você quer que eu faça? Peça, você quem manda...
-Deixa eu
resolver minha vida primeiro, depois eu te procuro para vermos o que poderá ser
feito...
-Resolver
sua vida com o outro, né?
-Emerson,
por favor, não complique as coisas?
-Tudo
bem, vou te esperar então... - Falou caminhando em direção à porta.
-Pelo
amor de Deus, não cometa nenhuma besteira.
-Vou
tentar. Com licença.
Chorando ele deixou meu apartamento. Bati a porta, tremendo, tentando entender
o que se passava pela sua cabeça. Uma pessoa que comete tal atitude não pode
ser normal, e cedo ou tarde alguma loucura ainda maior ele poderia fazer contra
mim. Sendo assim, senti-me na obrigação de ajudá-lo.
Toda aquela confusão me deixou triste, apreensivo, deprimido. Pelo horário, o
Leonardo provavelmente ainda estava dormindo, pois todo final de semana ele
acordava tarde por conta das crianças que brincavam e faziam seu tempo render
cansaço.
Próximo capítulo: |
Uma quase verdade |
Dia 06/04
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