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Uma quase verdade |
Coloquei minhas malas
sobre a cama. Fechei o zíper da mochila, e ao colocá-la sobre a cama ouvi meu
celular tocar. Caminhei até a sala para atendê-lo, e ao olhar que a chamada era
de minha irmã, desanimei.
A princípio, não tinha
a mínima vontade de falar com a Jucinéia, mas já que estava me ligando, era
porque algo de importante tinha a me dizer.
-Clau?
-Oi.
-Tô
ligando pra dizer que já separei a pulseirinha da mamãe que ocê queria.
-Ah! Tudo
bem, obrigado.
-Quando
você vier buscar...
-Pode
mandar por correio, porque não pretendo pisar mais por essas bandas.
-Ah é?
Pois então vou mandar também aquele telefone maldito que matou a mamãe.
Nesse momento o tempo parou. Incrédulo, perguntei:
-Matou a
mamãe? Do que você está falando? - Questionei sentando-me ao sofá.
-A
Cidinha tava em casa quando ela passou mal, e me disse que tudo começou depois
que alguém ligou pra ela.
Cidinha era uma das vizinhas de minha mãe, e fofoqueira do jeito que era,
provavelmente todo o bairro já deveria estar sabendo o que de fato havia
acontecido.
-Essa
história está muito estranha... - Falei tentando encontrar uma resposta.
-Claro
que não está. Você matou a mamãe.
-Eu?
-Olha,
Clau... Eu não sei tudo que disseram a ela, mas contaram que você estava se
prostituindo em São Paulo.
-O quê?
Dei um pulo do sofá.
-Espero
mesmo que você nunca mais apareça por aqui.
-Pode...
Deixar.
Desliguei o telefone
indignado. Quem poderia ligar para minha mãe e inventar uma coisa daquela? Qual
o propósito de tal maldade?
Não era preciso pensar muito para chegar na principal e única suspeita: Talita.
Ordinária! Realmente, ela cumpriu a ameaça que havia me feito, porém, eu não
iria deixar barato. Ainda teve a coragem de ir até minha casa com uma desculpa
qualquer para ter certeza de que a tragédia realmente havia acontecido,
tentando me convencer com aquela desculpinha cretina.
Liguei o computador
chorando de nervoso. Já que minha vida foi arruinada, ele não ficaria por cima
da carne seca. Criei uma pasta na área de trabalho, reuni todas as provas que a
incriminavam, como os correios eletrônicos, os vídeos e fotos forjadas por mim
a mando dela.
Anexei tudo em um e-mail e encaminhei para o Leonardo,
digitando em um breve texto o motivo pelo qual estava fazendo aquilo. Quanto
mais eu tentava me redimir, as consequências do passava insistiam em me
assombrar, tirando-me a paz. Definitivamente, toda a verdade seria revelada a
quem realmente precisava saber.
Assim que desliguei o computador, peguei tudo que havia recebido de provas
físicas da Talita, além das armadas por mim. Reuni o dossiê completo, coloquei
tudo dentro de uma pasta e segui pra casa do Leonardo.
Minha intenção era
encontrá-lo antes que ele saísse para levar as crianças pra casa daquela
fulana, e assim entregar a ele todas as provas de um passado que me
envergonhava demais.
Cheguei em pouco tempo,
pois o trânsito estava livre. Toquei a campainha e ninguém apareceu. Na
terceira tentativa, eis que a empregada resolveu atender ao interfone:
-Pronto?
-Oi... O
Leonardo está?
-O doutor
saiu com as crianças... Eles foram almoçar fora.
-Será que
eu posso deixar com você uma encomenda para ele?
-Quem é?
-É o
Claus.
-Tudo
bem, só um momento que eu já vou buscar.
-Obrigado.
A rua estava deserta. Vez ou outra passava um carro, mas nada que tirasse a tranquilidade
daquela via pacífica. De uma vez por todas a verdade seria revelada,
livrando-me daquela culpa que restava e consumia meu peito todas às vezes que o
Leonardo lembrava-me de seu amor verdadeiro e puro. Mesmo com a possibilidade
de não receber seu perdão, em minha vida não cabia mais mentiras, isso iria
satisfazer minha consciência, limpar minha alma.
Após deixar a pasta com sua empregada, segui pra casa da Talita, furioso.
Maldita foi à hora em que eu saí naquela noite. Maldita hora em que parei
naquela esquina. Maldita hora que a conheci.
Se eu pudesse voltar
atrás, faria tudo diferente. Por culpa daquele maldito dinheiro, perdi minha
mãe, minha dignidade, o amor próprio.
Parei o carro próximo ao condomínio daquela ordinária. Quando cheguei à
portaria, não precisei esperar muito para poder subir, pois havia feito amizade
com o porteiro propositalmente, para utilizar em horas de necessidades como
aquela.
-Eae,
Carlão!
-Fala,
Claus... Tudo certo?
-Beleza.
A Talita está ai?
-Ela
ainda não saiu.
-E o
ex-marido dela... Já chegou?
-Ninguém
procurou por ela hoje.
-Posso
subir lá?
-Nem
precisa pedir.
- Falou destravando o portão.
-Valeu,
cara!
-Falou.
Eu não via à hora de
poder enfrentá-la, olhar em seus olhos e ver a sujeira de sua alma se
exteriorizando naquela imagem de ovelha.
Ao tocar a campainha, quase varei a parede, de tão forte que apertei o botão. Meu
coração quase saia pela boca. Fui recebido pela nova empregada, que por sinal
parecia uma mosca morta.
-Quero
falar com sua patroa.
- Disse entrando em passos largos.
-Senhor...
Por favor, preciso ver se ela poderá atendê-lo...
-Ela
poderá me atender sim.
Ambos na sala, logo a diaba apareceu, com aquela cara de cínica que só ela
sabia fazer.
Saindo de seu quarto com uma bolsa à mão, questionou com a voz alta:
-Isso são
horas de aparecer na minha casa?
-Eu
preciso falar com você.
-Não vê
que estou de saída?
- Falou jogando seu cabelo escovado.
-Sinto
muito, mas você vai me ouvir.
-Espero
que seja algo muito importante, pois tenho que ir trabalhar.
Caminhei até ela cuspindo fogo pelas ventas. Segurando forte em seu braço,
falei firme olhando em seu olho:
-Sua
vagabunda! Você matou minha mãe!
Completei com um tapa
em sua cara.
-O que é
isso? Você está louco? - Disse com a mão no rosto caída ao sofá.
-Pensa
que sou idiota?
-Eu não
sei do que você está falando... - Falou tentando levantar-se.
Joguei-a novamente.
-Foi você
que ligou pra minha mãe e falou a ela barbaridades... Confesse?
Levantando-se, ela
respondeu:
-Eu não
falei nada demais, apenas conversamos...
Nem deixei que ela
terminasse. Minha vontade naquele momento era de jogá-la daquela janela abaixo.
Como pode ser tão baixa?
Possuído pelo ódio,
falei:
-Eu vou
acabar com a sua vida...
-Ah é?
Como?
- Questionou escondendo-se atrás do sofá.
-Vou
contar quem é você e tudo que aprontou com o Leonardo...
-Ah é?
Vai contar também que te encontrei parado numa esquina do Arouche? Que você o
seduziu o tempo todo por causa do dinheiro que lhe dei?
Nesse momento levamos um susto. Sem que percebêssemos, o Leonardo acabava de
chegar, ouvindo tudo que a Talita dizia parado próximo à porta. Segurando o
Artur no colo com o braço direito e de mão dada a Giovana, exclamou:
-O quê!?
Silêncio.
-Leo...
Eu posso explicar.
- Falei abismado.
-Cláudia...
Leve as crianças para o quarto, por favor. - Disse o Leonardo colocando o Artur ao
chão.
Correndo, os dois
deixaram a sala. Indignado, ele falou:
-Então...
Quer dizer que durante todo esse tempo, você me usou?
-Não!... - Exclamei caminhando
em sua direção.
-Como
não? Vai me dizer que você foi encontrá-lo naquele aeroporto morrendo de
amores?
- Disse a Talita ironizando.
Deixando uma lágrima
escapar, o Leonardo disse:
-Vocês
dois tramaram tudo... Como fui idiota!
Aproximei-me dele
tentando explicar:
-Leo, por
favor, a gente precisa conversar.
-Não
ponha a mão em mim, Claus.
-Não faz
isso, Leo... Eu te amo!
-Ama?
Você tem coragem de dizer que me ama?
Destilando seu veneno,
o Talita tentava colocá-lo contra mim:
-Chega,
Claus! Não vê que ele já sacou tudo? Agora é tarde, a verdade veio à tona...
-Cala
essa boca, Talita!
- Gritei desesperado por estar perdendo meu amor.
-Calar
minha boca? Por quê? Está com medo que ele descubra quem matou a Vera?
-O
quê?... Vocês...
-Não, não
fomos nenhum de nós.
- Falei com a mão ao peito.
-O que
ela quis dizer então?
-Fala pra
ele, Claus... Conte quem foi então...
-Foi o
Emerson, empregado do flat...
-O mesmo
que você transava durantes as tardes?
Indignado, o Leonardo levou sua mão à face e falou:
-Não
posso acreditar que você chegasse tão baixo a esse ponto, Claus...
-Leo, por
favor...
-Eu te
amei de verdade, cara. - Falou olhando-me com o olhar mais puro que eu jamais
havia visto na vida.
-Eu
sei... Mas não pense que eu...
-Isso que
ela falou... É verdade?
-Leo...
-É
verdade, Claus? Por favor... Diga que não...
-No
começo foi... Confesso que me aproximei por interesse, mas depois eu me
apaixonei e desisti...
-Caralhoooooooo...
Você tentou acabar com a minha vida!
-Não!...
Eu não tinha ideia de como as crianças eram tão importantes para você... Foi um
plano que não deu certo, porque me apaixonei de verdade.
-Que
anjinho!...
- Resmungou a Talita próxima à TV.
Aproximei-me dele e tentava conseguir seu perdão.
-Por
favor, Leonardo... Eu te amo de verdade...
Chorando calado, ele levantou seu braço como se fosse me dar um soco. Tremi.
Com o punho em posição de ataque, mirou bem na minha cara. Naquele momento
achei que o Leonardo fosse quebrar meu nariz. Confesso que não revidaria, pois
levar um soco ainda seria pouco perto de tudo que eu havia lhe feito.
Apenas as lágrimas desciam de seus olhos, e segurando-se para não cometer uma
besteira agredindo-me, falou olhando em meus olhos:
-Não
consigo bater em alguém que amo tanto...
Que homem! A dor que eu senti era como se uma lança atravessasse meu peito de
uma só vez, arrancando meu coração por partes, prolongando meu sofrimento, de
uma doença que se chamava Amor.
Caminhando lentamente de costas em direção à porta, ele citou o refrão de nossa
música:
-“Agora
eu vejo, que aquele beijo era mesmo o fim”...
-Não!...
Não é o fim, por favor...
Sem dar mais uma palavra, o Leonardo saiu batendo a porta, soprando a nuvem de
sonho que eu havia pousado sem mais querer sair. As lágrimas desciam, apertando
meu peito como um mergulho quilométrico, sem previsão de subida.
-Viu o
que você fez?
- Gritei pra Talita que, sentada ao sofá, respondeu:
-Vá você
e ele pro raio que os parta.
Inconformado, desci atrás dele. Não iria me calar diante de mais uma injustiça.
Se não desse em nada, pelo menos iria ouvir minha versão, esclarecendo de uma
vez por todas as confusões que quase acabaram com nossas vidas.
Desci do elevador e pelo vidro do hall
avistei o Leonardo cruzando o portão. Imediatamente apressei meus passos. As coisas
não poderiam simplesmente acabar daquela forma, sem uma tentativa de perdão.
Entrando em seu carro, nem olhou-me. Apoiei sobre o vidro ao lado do motorista
e tentei conversar:
-Leo, por
favor, me ouve?
Silêncio.
-Leonardo...
-Pensei
que você me amasse de verdade... - Disse ele olhando além do horizonte.
Tirei a chave do carro que ele havia me dado do bolso e joguei em seu colo,
dizendo logo em seguida:
-A única
coisa que eu quero nessa vida, é você.
Sem se quer me dirigir o olhar, começou a fechar o vidro. Que droga! O que eu
deveria fazer para ele me escutar? Olhar-me nos olhos?
Num ato de desespero, deite-me a frente de seu carro gritando:
-Pelo
amor de Deus... Me dê uma chance de me explicar... Eu te amoooooooooooooooo.
Fechei meus olhos. Silêncio. Algum tempo depois ouvi o barulho da porta do
carro se abrir. Meu coração acelerou. Será que finalmente ele resolveu falar
comigo?
Permaneci de olhos fechados. Novamente ouvi barulho da porta, mas dessa vez se
fechando. Respirei fundo. Quando ele deu partida no carro abri os olhos, e ao
vê-lo dentro do meu carro, ou melhor, dentro do carro que ele havia me dado,
levantei imediatamente, mas era tarde demais. Sem dar-me atenção ele acelerou,
deixando sem resposta, largado naquela rua deserta.
Furioso, voltei ao apartamento da víbora. Se tudo que aconteceu estava
sobrecaindo sobre minhas costas, ela também merecia uma boa lição, dividindo a
parcela de culpa.
Entrei em sua sala e lá estava ela, sentada ao sofá, de pernas cruzadas e
conversando tranquilamente ao celular:
-Sim, ele
acabou de sair daqui... Conforme o combinado, não deixe testemunhas... Tchau.
Chorando, ao mesmo tempo revoltado, aproximei-me dela e peguei em seu braço
questionando:
-Do que
você está falando, Talita?
-Quer
fazer o favor de me largar?
-Diga
logo... O que você está aprontando?
-Hahaha...
Eu nunca perco, Claus.
-Talita...
Eu não vou deixar você fazer mais nada contra o Leonardo...
-Tarde
demais, querido. A uma hora dessas seu namorado já corre perigo.
-Sua
filha da puta!
Ela falou de uma forma
como se estivesse louca, fora de seu estado normal. Saber que algo de ruim
poderia acontecer com o meu amor, fez-me sair do controle. Apertei seu pescoço
e disse:
-Eu posso
apodrecer na cadeia, mas com certeza eu te mando pro inferno antes.
-Claus...
Por favor, não... Ai... Por... Favor... Cof, cof... Claus... Cof, cof...
-Eu vou
matar você...
-Não...
-Então
fale... O que você tramou contra o Leonardo?
Quase sem fôlego ela resolveu falar:
-Tudo...
Bem, eu... Conto... Cof, cof...
Afastei-me dela
questionando:
-Então
fale... Andaaaaaaaa.
- Gritei.
-Cof,
cof... Eu... Eu contratei um matador de aluguel. - Falou tossindo com a
mão no pescoço.
-Filha da
puta!
- Exclamei louco da vida.
-Cof,
cof... Ele vai matar o Leonardo...
-Não vai
não...
-Agora é
tarde, Claus... A uma hora dessa ele já deve estar a caminho.
-Então é
melhor você rezar, porque da vida dele depende a sua.
Corri até a cozinha, abri a gaveta, e peguei uma faca. Voltei à sala. Esperta
como a Talita era, já havia pegado o telefone e começado a discar pra polícia.
Ordinária! Corri até ela e dei-lhe outro tapa, jogando-a longe.
-Ah!...
Por favor, pare...
-Você vai
me contar direitinho que plano foi esse...
-Tudo
bem, eu conto.
Apontando a faca para ela, abri a porta e disse:
-Você vem
comigo...
-Pra onde
você vai me levar, Claus?
-Nós
vamos atrás do Leonardo e impedir que sua ideia maldita tire a vida de um homem
justo...
Descemos pelo elevador discretamente, para não chamarmos atenção. Quando
chegamos no quinto andar, uma moradora entrou e quando a Talita pensou em fazer
um sinal para a garota, sussurrei em seu ouvido:
-Se você
der bandeira, vai se arrepender.
-Tudo
bem. -
Respondeu com a voz tremula e um sorriso amarelo.
Toda simpática, a garota perguntou à Talita:
-E as
crianças, Talita?
-Estão...
Bem...
-Que bom!
Faz tempo que não as vejo.
-É que...
Não estou mais deixando elas descerem...
-Mas por
quê?
Antes de responder a Talita olhou pra mim, engoliu a saliva à seco e falou:
-Férias
da babá... Estou... Sem tempo...
-Ah tá.
Chegando no térreo seguimos até o carro do Leonardo, deixado na vaga de
visitante com a chave ainda no contato.
Transtornado, falei:
-Entra
logo.
-Claus,
por favor... Pra onde você vai me levar?
-Cala
essa boca e faça só o que eu tô mandando.
-Tudo
bem.
Entramos no carro e seguimos em direção a casa do Leonardo. Acelerei ao máximo,
cortando caminho pelo túnel Ayrton Senna. Com medo, a Talita chorava sem parar,
enquanto eu, tirava forças da alma para suportar aquela barra pesada.
-Fala
logo, o que você tramou com esse cara?
-Ele
vai... Forjar um assalto...
-Como é
esse cara?
-Não sei,
não conheço...
-Como
você não conhece?
-Eu pedi
pra um conhecido contratar alguém que fizesse o serviço... Só nos falamos por
telefone duas vezes.
-E o que
você ordenou?
-Que ele
atire no carro e mate quem estiver dentro.
-Sua
malditaaaaaaaaaaaaaaaa...
Desesperada, ela gritou:
-Para,
por favor... Eu já estou arrependida.
-Então
liga pra esse cara e cancela isso.
-Não dá.
-Por quê?
-Porque
não trouxe meu celular...
-E você
falou qual era o carro do Leonardo?
-Sim...
Saindo do túnel, logo avistei meu carro a nossa frente. Que alívio! Corri um
pouco mais para alcançá-lo, e consegui. Os vidros do veículo estavam fechados,
além de serem escuros. Buzinei duas vezes, mas ele não abriu, e ainda acelerou.
Droga! Se eu não conseguisse alertá-lo, uma desgraça provavelmente poderia
acontecer.
Tentei uma ultrapassagem, e estando a sua frente, abri a janela, buzinei e
gritei:
-Leonardo...
Por favor, pare esse carrooooooooo... Por favor...
Foi inútil. Ele nem me deu atenção. Quando chegamos na rua de sua casa, meu
coração apertou. Quanto mais o tempo passava, menos escolha eu tinha. A
grandeza de meu amor era inexplicável, fazendo de mim capas de tudo.
Percebendo que o
Leonardo iria parar no mesmo lugar de sempre, fechei seu carro e quando olhei
pelo retrovisor, avistei a moto se aproximando.
-Inferno! - Exclamei batendo as
mãos ao volante.
Ainda com a chave no contato, desci do carro e corri em direção ao Leonardo.
Quando ele abriu à porta, avistei o motoqueiro sacar a arma e mirar em sua
direção. Nesse momento eu relembrei todos os momentos em que passamos juntos
desde o início, tudo num piscar de olhos. Na mesma hora entrei em sua frente
gritando:
-Não!
Dei-lhe um abraço. Não houve tempo de fazer mais nada antes de ouvir o disparo.
Com o susto, a Talita gritou, motivo suficiente para que o matador atirasse no
carro onde ela estava. Foram dois tiros que à atingiram. Um no braço e o outro
na nuca, matando-a na mesma hora.
Não houve muito tempo de reagir. Abraçado ao Leonardo, eu não senti nada, até
ver um monte de sangue escorrer pelas minhas pernas. Olhando em seus olhos,
esbocei um sorriso e aos poucos fui perdendo a força das minhas pernas.
Desesperado, o Leonardo exclamou:
-Meu
Deus! Claus?...
Olhei para minha roupa
e a vi ensopada. Comecei a sentir falta de ar.
-Vou te
levar pro hospital... - Disse segurando-me em seus braços.
Imediatamente toquei em
sua mão, caindo ao asfalto dizendo:
-Não! Não
perca seu tempo... Fique aqui comigo, por favor?
Chorando muito ele
deu-me um abraço apertado questionando:
-Por que
você fez isso, seu maluco?
Tremendo de tanta dor,
respondi:
-Por
amor... Eu te... Amo tanto que... Troquei minha... Vida pela sua... Será que
agora você acredita que meu amor por você é verdadeiro?
-Claus...
Você não poderia ter feito isso...
Apertei forte em sua
mão dizendo:
-Leo...
Você é a pessoa mais...
-Não...
Não fale, você está perdendo muito sangue...
Com dificuldade eu continuava:
-Eu
preciso falar... Por favor, deixe-me terminar...
-Cara...
Eu te amo muito, você não tem ideia do tamanho da dor que estou sentindo...
-Você...
Foi a única pessoa... Que eu amei na minha vida...
-Eu
também te amo... Muito...
-“E agora é tarde, acordo
tarde... Do meu lado alguém que eu não conhecia, outra criança... Adulterada,
pelos anos que a pintura escondia... Aquele beijo, era realmente o fim!” - Cantei um trecho da música que marcou nossa história.
Nesse momento ouvi uma sirene soar. Fechei meus olhos,
pois minhas vistas já não viam quase nada, porém, consegui ouvir passos e a voz
da Fernanda gritando:
-Pai!... O que aconteceu?
-Filha... Chame ajuda, por favor?
-Eu ouvi os tiros, já chamei a polícia...
Com a voz querendo sair e estando quase sem ar,
perguntei:
-Diz que
você me perdoa?
-Claus...
-Por
favor, me perdoa?
-Te
perdoo... Te perdoo... Te amo, cara.
-Agora
sim... Agora... Posso morrer em paz. - Falei com um leve sorriso na face, deixando
as lágrimas da emoção escapar.
-Morrer? Pare com isso,
Claus...
A partir daquele
momento eu não me movi mais, desfalecendo em seus braços. Por mais que eu
estivesse inconsciente, conseguia ouvir tudo que se passava ao meu redor.
-Claus?...
Claus?... Voltaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa... Por favor, não saia da minha
vida assim... Claus...
Logo a polícia chegou, em seguida o resgate. Em pouco tempo colocaram-me sobre
a maca, com muito cuidado. Os vizinhos olhavam assustados de suas janelas, e o
trânsito de carros pela rua fora interrompido.
Fui
levado para o hospital mais próximo, enquanto a Talita permaneceu no local,
aguardando a perícia e o IML chegarem para retirar seu corpo dali.
Próximo capítulo: |
A redenção |
Dia 07/04
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