Eu não via a hora de
apresentar a minha “razão de viver” aos meus amigos. Ao entrar em minha vida, o
Cauê transformou-a completamente, levando-me ao paraíso sem sair do lugar,
fazendo-me viver um sonho acordado.
Cheguei à estação Armênia do metrô e fiquei esperando
pelos dois. Olhei no relógio e já eram oito horas da noite, sendo que havíamos
marcado para nos encontrar as oito e dez. Cinco minutos depois a Soraia chegou
toda elegante, com um perfume que deixava rastro por onde passava, cheia de
pose em cima de um salto agulha.
-Oi Tom!
-Boa noite! Você está
linda...
Tocando em sua mão, girei-a para ver em ângulo de 360
graus.
-Eu?
-Sim...
Realmente, a Soraia estava muito bonita. Os olhos
pintados, realçados com uma sobra brilhante moderadamente, e nos lábios um gloss,
deixando-as com um ar sexy. Ao notar uma tristeza em seu olhar, não hesitei
em perguntar:
-Miguxa... Você está
triste?
-Ai Tom... Estou um pouco
mal...
-Por quê?
-Hoje quando fui me
arrumar pra vim, nenhuma roupa me servia...
-Sério?
-É... Tive que ir correndo
até o shopping comprar algo pra vestir...
-Nossa!
-Fiquei muito mal.
-Eu imagino.
-Bem... Mas graças a você
minha mãe tem me dado mais atenção...
-Ah é?
-Sim... Ela me incentivou
a fazer um regime, ou melhor, uma reeducação alimentar através de uma
nutricionista...
-Com isso eu concordo, mas
ainda acho que você deveria consultar um médico.
-Você acha?
-Acho.
-É... Vou pensar...
-E, por favor, pare de se
entupir com aqueles remédios que não adiantam nada.
-Tentarei.
Com o auxílio de um funcionário o Cauê desembarcou.
Guiado também com sua vareta eles caminhavam em direção às catracas quando os
abordamos.
Estando os três juntos, seguimos para a baladinha onde eu
costumava frequentar. Descíamos à escada rolante quando a Soraia perguntou:
-Cauê... Como você faz pra
andar sozinho por São Paulo que é tão grande?
-Eu saio com o Emílio
quando vou para lugares que não conheço...
-E quando não está com o
Emílio?
-Quando não estou com o
Emílio eu uso a vareta para me guiar...
-Mas não é ruim andar pelo
metrô? Você não tem medo de cair nos buracos das calçadas?
-Ah... Os funcionários do
metrô nos ajudam a se locomover nas estações... Além de ter sinalização no piso
para guiar pessoas com problemas como o meu...
Em 2005 a Secretaria Municipal das Subprefeituras de São
Paulo iniciou o Programa Passeio Livre, onde através do decreto
45.904/05 estabeleceu normas de acessibilidade, dimensões e materiais adequados
para implantação de calçadas e uma forma de parceria com a iniciativa privada
para reconstruir calçadas.
Para que a padronização e acessibilidade dos passeios
atinjam toda a cidade, as calçadas dos imóveis particulares também foram
reformadas, sendo de responsabilidade do proprietário do imóvel a conservação,
manutenção e reforma, independente se residencial ou comercial. As calçadas que
estiverem irregulares ou mal conservadas são passíveis de multa.
Em 2007 o total de calçadas reformadas na cidade já
passava dos 500.000 m², sendo revestidas com pavimento de blocos Inter travados,
nas cores vermelha, cinza e cinza escuro, com extremidades rebaixadas para
facilitar o trânsito de cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, onde
idosos, gestantes, deficientes e crianças possam transitar sem preocupação e
riscos de acidentes. Há também pavimentos feitos de concreto moldado, placas
pré-moldadas e ladrilho hidráulico. Os motivos que levaram a prefeitura a
escolher materiais como esses foram a estética, a durabilidade e flexibilidade
de remoção e recolocação, sendo econômico e ecológico, por permitir que a água
penetre no solo entre os blocos.
Ao chegarmos avistei o Kico parado à porta, vestindo uma
calça preta e uma camiseta branca. Usando um boné com a aba virada para trás e
os olhos pintados, nem notou nossa presença.
Calado, aproximei-me dele e puxei seu cinto por trás,
dando-lhe um susto.
-Tom! Que sustooooooo...
-Hahaha... Deixa eu te
apresentar... Esse é o Cauê...
-Prazer, Cauê!
-Prazer!
-E essa é nossa amiga
Soraia...
-Nossa, girl! Como você é
bonita...
Tímida, a Soraia agradeceu após cumprimentá-lo com um
beijo no rosto.
-Bonita?... Obrigada!
Nem precisou que ela dissesse para notar sua felicidade.
Claro que na frente do Kico eu não falaria nada, mas depois confirmaria sem
sombra de dúvidas minhas suspeitas, com discrição. Caminhando em direção à
porta perguntei ao Kico:
-Você não vai entrar?
-Estou esperando o
Dinho...
-A gente se vê lá dentro
então.
-Certo.
Tornei-me apoio da Soraia e do Cauê, pois ambos seguravam
em meu braço, um de cada lado, estando eu ao meio, recheando o sanduiche.
Procurei um canto onde pudéssemos ficar sem muitas pessoas em volta. Ao lado
esquerdo encontramos uma mesa, e logo depois que nos instalamos o Kico e o
Dinho nos encontraram:
-Nossa... Por que vocês
estão se escondendo?
-Quem disse que estamos
nos escondendo?
-Então pra que ficar aqui
no canto?
-Não posso deixar o Cauê
no meio do povo, ele tem deficiência visual...
-Ah!... Eu vou buscar uma
cerveja e já volto...
-Beleza.
Enquanto os dois foram ao bar, perguntei à Soraia:
-Sê... Por que você está
toda solta desse jeito?
-Eu?... Como assim?
-Sim... Depois que o Kico
falou que você estava bonita...
-Ai amigo... Nunca ninguém
me fez um elogio desse antes...
-Sério?
-É...
Segurando duas latas de cerveja na mão o Kico voltou,
oferecendo uma delas à Soraia. Eu não era bobo, e percebi logo um clima rolando
entre os dois. Por volta das nove horas toda a turma já havia chego,
concentrando-nos em volta da mesa e conversando sobre diversas coisas.
Dando um gole em sua caipirinha a Linoka perguntou:
-Tom... Quanto tempo faz
que você e seu amorzinho estão namorando?
Após um suspiro o Cauê respondeu por mim:
-Não estamos namorando,
apenas ficando.
-E o que falta pra vocês
namorarem?
-O Tom me pedir em namoro.
Nesse momento todos começaram a gritar:
-Pede... Pede... Pede...
Até a banda que tocava no palco parou e aderiu ao coro.
Morri de vergonha, pois nunca havia passado por tal situação. Pedindo silêncio,
toquei na mão do meu amorzinho e com uma certa timidez tentei dizer:
-Bem... Mozinho... Você
aceita namorar comigo?
-Aceito!
Todos começaram gritar:
-Aeeeeeeeeeeeeeeeee...
Demos um beijo, e logo em seguida a banda retomou às
músicas. Minhas mãos tremiam, tamanha timidez. Tirando o cigarro da boca o Kico
puxou-me de lado falando:
-Tom... Será que tem jeito
de você tentar um esquema com sua amiga?
-Você está falando da
Soraia?
-É.
-Pra você?
-É...
-Bem... Eu posso falar com
ela...
-Brigadu, migow!
Voltei à mesa e disse no ouvido da Soraia:
-Sô... Eu acho que o Kico
ficou a fim de você.
-De mim?
-É... O que você acha?
-Mas Tom, eu sou gorda...
-Não foi isso que ele
disse para você...
-É verdade... Ai meu
Deus...
-O que foi?
-Eu não sei o que eu
faço... Ninguém nunca se interessou por mim...
-Então decide, eu posso
dizer a ele que você topa conversar?
-Pode.
Fiz apenas um sinal com a cabeça para ele que se
aproximou e sentou-se ao nosso lado. Deixei-os conversando e fiquei dando
atenção ao Cauê, e ao virar-me novamente avistei os dois se beijando, abraçados,
trocando carinhos. Fiquei super feliz pelos dois, pois ambos eram pessoas que
eu gostava, e logo contei a novidade ao Cauê que vibrou com a notícia.
-Mozinho... A Soraia e o
Kico estão se beijando...
-Sério?
-É...
-Me beija também?
Pegando o embalo dos dois, eu e o Cauê iniciamos um beijo
também. Passamos uma noite muito agradável, principalmente a Soraia, que
aproveitou bastante com o Kico. Fiquei muito feliz por ela, pois o meu amigo
era um cara muito bacana, e eu não digo isso pelo fato dele ser meu amigo, mas
sim por reconhecer o valor real das pessoas.
Deixamos à balada já passava dás onze horas da noite. Por
insistência da Soraia e do Cauê, acabamos voltando de táxi, e no estado em que
a Soraia ficou após beber meio copo de batida, não seria seguro se ela voltasse
de metrô.
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