Ao chegarmos à casa do
Cauê, desci para o acompanhar. Despedimo-nos da Soraia que permaneceu no carro,
seguindo para sua casa logo em seguida. Parados em frente ao portão, dei um
abraço em meu mais novo namorado. Nossos corpos juntos, sentindo o calor de sua
pele faziam-me um bem enorme, como um remédio para as soluções dos meus
problemas.
Tocando em meu rosto o Cauê disse com a voz embargada:
-Tom... Eu quero ser
seu... Só seu... Por completo...
-Você já é meu desde
quando te tirei daquela piscina...
Encostei-me à parede e recomeçamos a nos beijar. Suas
mãos exploravam minhas costas com suaves toques, caricias leves que me faziam
arrepiar. No intervalo de um beijo e outro olhei no relógio e já passava da
meia noite.
-Caramba!
-O que foi?
-Já são meia noite e
quarenta... Como vou embora agora?
-Não vá... Durma aqui
comigo...
-Dormir aqui?
-É...
-Mas sua mãe...
-Ela não irá se
importar... A gente explica a causa para ela amanhã...
-Bem... Então tudo bem...
Só vou ligar para minha mãe e dizer que não dormirei em casa.
-Sim, meu amor.
Telefonei para minha mãe e avisei que não dormiria em
casa. Embora não fosse muito favorável à ideia, não restou outra alternativa,
pois não havia mais transporte pelo horário e ir até lá me buscar seria difícil
pelo fato de já ser noite e ela não conhecer a região.
Ao entrarmos, seguimos direto para a cozinha. Puxando uma
cadeira o Cauê perguntou-me:
-Amor... Você está com
fome?
-Um pouco.
-Minha mãe deve ter
deixado algo pronto aqui... Você pode ver se está dentro do micro-ondas?
-Claro, mozinho.
Abri a porta do micro-ondas e logo avistei metade de uma
torta de frango que parecia estar com uma cara ótima.
-Meu príncipe... Tem torta
de frango...
-Oba! Esquenta pra mim,
por favor?
-Claro!
Enquanto a torta aquecia, eu e o Cauê arrumávamos à mesa
para jantarmos. O silêncio da madrugada me fazia um bem enorme, em todos os
sentidos, levando-me a um estado de paz.
Sempre quando eu me sentia sozinho, subia no telhado e
passava a madrugada inteira pensando na vida, enquanto a cidade continuava
trabalhando sem parar. As luzes dos grandes prédios formavam um lindo cenário,
abrigando meus pensamentos e acolhendo-me nos meus momentos de tristeza.
Sentados à mesa, jantávamos a torta de frango, que por
sinal estava maravilhosa quando o Cauê disse:
-Está ouvindo esse
barulho?
-Que barulho?
-De carros.
-Não ouço barulho algum...
-É porque está bem
baixinho...
-Certamente.
-Esses carros devem estar
bem longe daqui...
-Bota longe nisso.
-Sabe que eu adoro esse
barulho de São Paulo?
-Sério?
-É... Barulho de cidade
grande à noite...
-Hum... Eu também adoro!
-Enquanto alguns dormem,
outros trabalham...
-Pois é. Essa cidade não para.
Após dar um gole em seu suco de abacaxi o Cauê perguntou:
-Tom...
-Hum?
-Como é à noite?
-Em que sentido?
-Todos!
-Bem... A noite é escura,
mais fresca...
-É muito escuro?
-Não. A lua ilumina parte
dela, mas não como o sol faz com o dia.
-Ah!
-Durante a noite o céu
fica coberto de estrelas...
-E como são as estrelas?
-Lindas! Brilham bastante,
cobrindo com beleza nossos telhados.
-Eu lembro que na escola
aprendi que elas ficam muito longe da Terra.
-Isso é verdade.
-Devem ser lindas mesmo.
-Seu eu pudesse te daria
de presente.
-Deus já me deu o melhor
presente do mundo: você.
Naquele momento toquei em sua mão, sentindo-me o cara
mais feliz do mundo. O Cauê foi um presente de Deus, e juntos viveríamos para
sempre, unidos pelo sentimento mais nobre do mundo que é o Amor.
Após jantarmos, seguimos para seu quarto, pois meus olhos
já estavam pregando de sono. Fechei a porta assim que entramos. A janela de seu
quarto estava aberta, deixando o ambiente bem agradável e fresco.
Depois de colocar um CD pra tocar o Cauê sentou-se em sua
cama, e tirando seu tênis ele falou:
-Você se importa de dormir
em minha cama?
-Não se preocupe,
mozinho... Eu posso dormir no tapete mesmo.
-Por que no tapete?...
Você é meu namorado, pode dormir comigo. Ao menos que você não queira.
-Não quero dormir com
você.
-Não?
-Não só dormir, mas também
acordar, tomar banho...
-Hum... E fazer amor?
-Também!
A luz do quarto já estava apagada quando o Cauê tocou em
minha mão e pediu:
-Tom, me beija?
Silêncio entre nós. Fechei meus olhos e iniciamos nosso
beijo, um beijo único, singular. Apenas nossos corpos falavam, acompanhados
pelas fortes batidas de nossos corações.
De fundo o barulho da cidade se misturava ao som de Não
vá embora – Marisa Monte. Abraçados, nos deitamos. Suas mãos tocavam minha
face como se pudessem enxergar minha alma, meus pensamentos, enquanto a letra
da música falava por nós.
Não Vá Embora
E no meio de tanta gente
eu encontrei você
Entre tanta gente chata
sem nenhuma graça, você veio
E eu que pensava que não
ia me apaixonar
Nunca mais na vida
Eu podia ficar feio só
perdido
Mas com você eu fico muito
mais bonito
Mais esperto
E podia estar tudo agora
dando errado pra mim
Mas com você dá certo
Por isso não vá embora
Por isso não me deixe
nunca nunca mais
Por isso não vá, não vá
embora
Por isso não me deixe
nunca, nunca mais
Intérprete: Marisa Monte
Composição: Marisa Monte
Sussurrando ele falou em meu ouvido:
-Faça-me feliz, Tom?
Depois de um intenso suspiro, respondi:
-Como?
-Torne-me seu... Por
completo.
Com sua mão direita ele tocou em minha esquerda e a levou
em direção ao botão de sua calça. Voltei a beijá-lo, sem questionar mais nada.
Peça por peça fomos nos despindo, até ficarmos totalmente nus. Abraçados,
podíamos sentir as batidas do coração um do outro.
Eu já transei com outros meninos anteriormente, mas nunca
havia sentido satisfação como aquela, um estado de felicidade plena.
Ao tocar em sua cintura, o Cauê falou:
-Preciso te dizer algo...
-O quê?
-Eu... Eu nunca fiz...
-Você é virgem?
-Sim...
-Oh!
-Decepcionei você?
Respondi primeiramente com um beijo em sua testa.
-Claro que não... Você é
muito especial, sabia?
-Eu amo você, Tom!
-Também te amo.
Nossos lábios se tocavam carinhosamente, em um beijo
calmo, molhado e repleto de sentimento sincero. A sensação que eu vivia naquele
momento jamais sentira antes, impossível descrever.
A noite estava linda. O vento fresco que entrava pela
janela refrescava-nos do suor provocado pelo clima que rolava no quarto, e a
luz da lua, que ao tocar nossas peles recarregava nossas energias consumidas no
momento em que fazíamos amor.
Nossos corpos pela primeira vez sentiram um ao outro, em
um verdadeiro e profundo toque de pele. Sem pelos, trocávamos suores e beijos,
que se tornavam cada vez mais intensos.
Aquele foi o melhor momento da minha vida, inesquecível, único,
mágico, eternizado por nós, tendo apenas as paredes brancas de seu quarto como
testemunha.
Enquanto fazíamos os movimentos pélvicos, dei-lhe um
beijo na testa e perguntei em seguida:
-Está tudo bem, mozinho?
-Sim... Você é
maravilhoso...
-Qualquer incômodo, você
me avisa.
-Tá bem.
O abracei forte, compartilhando as batidas dos nossos
corações. Nossas peles respondiam na mesma intensidade, cúmplices, em busca do
prazer mútuo.
Fizemos amor, como eu nunca havia feito na vida. Aquela
noite eu me realizei, descobrindo algo que até então eu não conhecia.
Com sua cabeça apoiada ao meu peito e o lençol nos
cobrindo até a cintura ele disse:
-Obrigado!
-Pelo quê?
-Por me proporcionar um
momento tão mágico como esse...
-Não precisa agradecer...
Dei-lhe um beijo na testa e o abracei forte. Assim
adormecemos. É impossível descrever a sensação que se sente ao fazer amor com
quem a gente ama. Sozinhos naquele quarto compartilhamos sonhos, carinho,
dividimos prazeres, nos tornamos um só corpo, uma só alma.
No outro dia acordamos por volta das nove da manhã. O
cheiro de café já se espalhara pela casa, despertando em nosso estômago uma
euforia quase que incontrolável.
Acariciando meu peitoral o Cauê disse:
-Amorzinho... Dormiu bem?
-Bom dia, mô! Dormi nas
nuvens, e você?
-Ainda estou sonhando...
Não quero acordar tão cedo...
-Acho melhor a gente
levantar...
-Também acho. Vamos tomar
banho?
-Claro!
Levantamo-nos da cama, ambos nus. De mãos dadas
caminhamos até seu banheiro. Liguei o chuveiro, fechei a porta e antes de
entrar na água o Cauê exclamou:
-Está fria!... Deixa mais
quente, amor?
-Calmai... Pronto, já
começou a esquentar.
-Tom...
-Oi?
-Como é a água?
-A água?
-É.
-Bem... A água não tem
cor, é...
-Não tem cor?
-Não.
-Mas eu sempre ouvi dizer
que o mar é azul...
-Sim, mas não porque a cor
da água seja azul.
-Então por que é?
-Bem... não sei te
explicar com detalhes, mas sei que tem a ver com profundidade, terreno, raios
solares...
-Ah!... E qual é o tamanho
do mar?
-Vixi... É muito grande.
-Maior que a China?
-Maior que todos os países
juntos.
-Nossa! Um dia você me
leva pra conhecer?
-Claro... Você nunca foi à
praia?
-Não.
-Então eu te levo pra
conhecer.
-Você promete?
-Prometo.
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