quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O tobogam da habitação


Começam as chuvas, e lá se vão as casas. Mande lembranças! Não... Elas também se vão, apagadas pela lama que cobre as memórias, os esforços de uma vida inteira. Enquanto a pobre trabalhadora sobe, sua casa desce, levando o que estiver pela frente. Quem disse que podia construir no morro? Ninguém. E quem disse que não podia? Ninguém. E assim a cidade cresce, desordenada, desesperada pelo sonho de ter um lar, a moradia na beira da represa, no alto do morro, na beira da estrada, nos pés dos trilhos do trem. E a prefeitura? Essa finge que não vê. Asfalta rua de terra, instala iluminação pública. Lá vêm os problemas: esgoto, poluição, desmoronamentos. Novidade? Nenhuma, afinal, parece que a administração municipal não anda pelas ruas da própria cidade. O morro desabou! Chega a defesa civil. O que aconteceu? A casa caiu! "Meu Deus! Não tínhamos o conhecimento dessa ocupação..." - Diz a prefeitura. Enquanto ela não sabe de nada, escorrega todo mundo. Desce a mãe e as crianças dormindo, o pai, o cachorro, a geladeira, a cozinha inteira. Não vamos esquecer do botijão de gás e da maquina de lavar roupa. Perdeu alguma coisa? Está tudo lá embaixo, tem que descer pra procurar. Embaixo de onde? Do morro, da lama, do entulho. E quem se importa? Ninguém.