terça-feira, 26 de maio de 2009

Papo entre amigos

Ontem, voltando para casa conversava com um colega de trabalho.
Orgulhoso ele contava-me sobre seu pai, quando bateu a curiosidade que me fez questionar:
-Junior, o que é ter pai?
Ele respondeu:
-Pra mim ele foi um herói.
Quando passei no vestibular, ele chorou de emoção.
No dia em que estava triste, ele me levou pra jogar bola.
Sempre que chegava tarde do trabalho, ele ia me buscar.
Se eu não tivesse dinheiro para comprar meus livros, ele comprava pra mim.
Nunca deixou que eu pagasse minha faculdade sozinho.
Jamais o vi brigar comigo na frente dos outros, nem me bater.
Fazia questão de me mostrar que sempre fui prioridade em sua vida.
Toda semana iamos jantar fora, jogávamos video game e falávamos de futebol.
Sabendo que nunca gostei de cigarro, evitava ao máximo fumar na minha frente.
Festas de final de ano nunca passavam vazias, sempre em família e muitos presentes.
Se me visse chorar, ficava furioso até saber o motivo.
Nunca dormia quando eu saia para as baladas, esperando-me acordado ao voltar no outro dia.
Foi o cara que me ensinou a ser homem, me dando caráter e dignidade.
Com um sorriso sereno na face, perguntou-me:
-E você?
-Eu? Bem... - Sem jeito, puxando pelas recordações, comecei:
Nunca tive um herói.
Quando passei no vestibular, nem parabéns recebi.
No dia em que estava triste, quase fui agredido por passar 7 minutos no banho.
Sempre que chegava tarde do trabalho, tinha que vir caminhando, até mesmo em dias de chuva.
Se eu não tivesse dinheiro para comprar livros, tinha que pedir empréstimos no banco, pois recebi um não ao precisar de sua ajuda.
Nunca me ajudou a pagar a faculdade.
Muitas vezes brigava comigo na frente dos outros, às vezes apanhava sem saber por quê.
Fazia questão de nos mostrar que seu carro tinha mais valor que qualquer membro de sua família.
Sabendo que nunca gostei de cigarro, soltava fumaça bem próximo de mim, fazendo-me passar mal com falta de ar.
Festas de final de ano, passávamos cada um em seu canto, aguentando seu jeito frio, mau humorado e silencioso de torturar alguém, nem mesmo um feliz Natal.
Se me visse chorar, sentia prazer, sensação de satisfação ao nos ver com medo, tristes, chorando.
Nunca deixava de dormir quando eu saia para a balada, aliás, nem se importava se eu estava em casa ou não.
Não me ensinou a ser homem, mas um dia me cobrou.
Com olhos de expanto, ele perguntou:
-Esse é seu pai?
Triste, respondi:
-Ao contrário de você, não sei o que é ter pai.


Lu Mounier

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