domingo, 21 de março de 2010

O Jardim da Luz: Amostra 1º Capítulo


01

Dizem que se leva um minuto para conhecer uma pessoa especial, uma hora para amá-la e uma vida inteira para esquecê-la. Por mais que o tempo passe, existem coisas que jamais apagaremos da memória, cicatrizes deixadas pela vida que nos acompanharão para sempre.

Filho de pais alemães, nasci e cresci em São Paulo, onde morei por doze anos até minha família voltar à Europa. Devido a crise que o continente enfrentou pós guerra, a empresa em que meu pai trabalhava encerrou suas operações no Brasil, o transferindo para a matriz em Berlim.

A Europa estava vivendo um caos depois da Primeira Guerra Mundial. A Grã-Bretanha e a França tinham grandes dívidas com os EUA e tinham a intenção de fazerem a Alemanha pagá-las.

Com sua derrota na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha sofreu enormes prejuízos. Assinado em 1919, o Tratado de Versailles foi um acordo de paz assinado pelas potências européias que encerrou oficialmente as batalhas. Após seis meses de negociações em Paris, o tratado foi assinado como uma continuação do armistício de Novembro de 1918, em Compiègne, que havia posto um fim aos confrontos.

O principal ponto do Tratado de Versailles obrigava a Alemanha a arcar com as dívidas de guerra, pagando altas indenizações, além de abrir mão de territórios coloniais e próprios, tendo ainda que adotar o processo de desmilitarização de seu país, não podendo dispor de quaisquer tipos de fortificações, tendo seu exército limitado a 100 mil homens.

Na realidade esse tratado foi uma medida punitiva, culpando a Alemanha, Áustria e Hungria pela guerra e impondo reparações ilimitadas e mal definidas aos Poderes Centrais. A conseqüência desse processo foi o empobrecimento do povo alemão e um gigantesco processo inflacionário. O marco¹ perdeu espaço para o dólar. Em novembro de 1918, um marco valia 25 centavos de dólar, e já em 1922, caiu para 400 marcos para um dólar. No ano seguinte, mais precisamente em novembro de 1923, o poder de compra do dinheiro diminuía quase que a cada hora. Os alemães se apressavam para converter suas economias caso tivessem alguma em bens duráveis.



¹ Marco: moeda alemã antes da incorporação do Euro.



Aceitar a idéia de mudar para o velho continente foi difícil, principalmente pelas razões climáticas, os amigos. O que eu não sabia, era que minha vida mudaria para sempre.

Em meu quarto eu lia um livro que trouxera do Brasil, somente com a luminária ao lado direito da minha cama ligada, além do aquecedor. O frio que fazia naquela noite despertava-me vontade de chorar, mesmo agasalhado.

A primeira noite foi a pior de todas, pois não tínhamos vestimentas apropriadas para aquele clima, nos fazendo quase congelar.

Logo quando o dia amanheceu meu pai foi trabalhar, ficando apenas eu, meu irmão e minha mãe. Desci para tomar café da manhã, tremendo feito uma vara verde.

Colocando o bule sobre à mesa, minha mãe falou:

-Hans, preciso que você vá comigo até a loja de tecidos.

-Fazer o quê?

-Vou comprar tecido. Não temos muito dinheiro para gastar com alfaiate e precisamos de boas vestimentas para passar o inverno.

-Por que a senhora não leva o Patrick?

-Porque ele ficará estudando.

-Humpft... Tudo bem.

Mesmo que eu não concordasse em ir, ela obrigaria-me de qualquer jeito. Nossa educação sempre foi muito rígida, tendo os pais como soberanos de tudo. Claro que eu não concordava com tais regras, porém, contrariar não adiantaria muito, apenas levaria-me para cama mais cedo, e certamente acompanhado de uns puxões de orelha.

Caminhando apressado, tentava acompanhar os passos de minha mãe em direção à loja de tecidos.

Tomando a frente, minha mãe empurrou a porta, entrando rapidamente, comigo logo em seguida. Quase a deixei bater, pois ventava muito naquele momento.

Aproximando-se do balcão, mamãe olhava de um lado para o outro as pilhas de tecidos, ao mesmo tempo em que tirava suas luvas.

Não demorou muito para que uma senhora nos abordasse:

-Bom dia!

-Bom dia. Quero ver alguns tecidos para fazer roupas de inverno.

-Ah sim! Acompanhe-me, por favor. - Disse aquela senhora caminhando em direção às prateleiras.

A loja tinha alguns adereços estranhos, provavelmente provindos de outra cultura. Conforme minha mãe ia pedindo, o senhor que estava no balcão ia medindo, cortando e embrulhando os tecidos.

Ambiente sombrio, cheirava a couro. A porta de entrada nos permitia visualizar os bondes e pessoas pela rua passar, pois da metade para cima era de vidro.

Depois de muito esperar, eis que ouço meu nome:

-Hans... - Chamou minha mãe.

-Senhora?

-Venha me ajudar com os pacotes.

-Sim.

Quando voltei ao balcão e vi aquela pilha de pacotes amontoados, tive vontade de chorar. Nunca pensei que minha mãe fosse comprar tanto, sobrando, claro, para eu carregar.

-Quanta coisa! - Exclamei abismado.

Dando a volta pelo balcão, o senhor de cara feia disse:

-Aguarde um momento que vou lhe ajudar com os pacotes.

-Sim. - Respondeu minha mãe colocando suas luvas.

Caminhando por um longo corredor, gritou o senhor:

-Eliezer!... Eliezer!...

-Chamou, pai?

-Ajude essa senhora e seu filho com os pacotes.

-Sim.

Que alívio! Pelo menos eu não levaria tudo sozinho. Assim como seus pais, aquele garoto era estranho, sério, usando um chapéu na cabeça igual ao daquele senhor.

Durante todo o caminho ele permaneceu calado, caminhando apressado para tentar nos alcançar. Após quase ser atropelado por um bonde, minha mãe pegou em sua mão, e a partir de então passou a puxar assunto com ele:

-Qual sua idade, Eliezer?

-13.

-Você tem irmãos?

-Sim.

Suas respostas eram curtas, provavelmente devido a sua timidez.

-Quantos irmãos você tem?

-Tenho uma.

-E qual o nome dela?

-Ashira...

-É mais velha?

-Sim, Ashira tem 15 anos.

Ao chegarmos em casa, colocamos os pacotes sobre a mesa da cozinha. Tirando suas luvas, mamãe disse acendendo o fogão:

-Sente-se à mesa, Eliezer. Vou lhe servir algo para aquecer do frio.

-Desculpe, senhora, mas não posso demorar...

-Não se preocupe, não irá demorar nada.

-Tudo bem... Danke!

Tomamos um chá com biscoitos, os três sentados à mesa. Aos poucos o Eliezer foi se soltando e conversando mais, deixando-me confuso com toda aquela história de judeu que eu não entendia nada. Até que ele se mostrou um garoto legal, diferente da primeira impressão fechada e isolada que se mostrou logo no início.

Após o chá, o Eliezer partiu dizendo que precisava voltar logo para a loja para ajudar seus pais, e eu, tranquei-me no quarto para ler um pouco os livros que trouxera do Brasil. Envolvi-me com a história que nem percebi o tempo passar, até ser interrompido por alguém batendo a porta.

Segui até o corredor, olhei de um lado para o outro e não vi ninguém.

-Mutter¹? - Chamei. - Patrick?



¹Mutter: mãe



Ninguém respondeu. Tudo indicava que não havia ninguém em casa. Sendo assim, fui até a sala para ver quem era. Espiei pelo buraco da fechadura, mas não consegui ver ninguém.

Abri a porta e avistei aquele garoto estranho, segurando um pacote nas mãos.

-Hallo! - Exclamei surpreso.

-Oi... A senhora Gisela está?

-Acho que não...

Ficamos um tempo olhando um para a cara do outro, até que sugeri:

-Entre, acredito que ela não vá demorar.

-Danke!

-Sente-se. - Falei fechando a porta.

-Danke!

Sentei-me no outro sofá frente ao seu. Silêncio. Apenas o pêndulo do cuco na parede soava, e às vezes o bonde ao passar pela rua.

-O que aconteceu com seu chapéu? - Questionei curioso.

-É uma kipá².

-Kipá?

-Sim.

-Pra que serve?

-A kipá deve estar sempre sobre a cabeça, lembrando que há alguém acima de nós observando todos nossos atos. Isso faz com que reflitamos mais sobre nosso comportamento e nossas ações.

-Hum... E por que você não tira ela?

-Não podemos tirar, só pra tomar banho.

-Nem pra dormir?

-Nem pra dormir.

-Hum... Achei vocês um pouco estranhos.

-Por quê?

-Não sei...

-Humpft... Deve ser porque somos judeus.

-Judeu?

-Ja... Cultura judaica. Nunca ouviu falar?

-Não.

-Nossa!... Mas você também é estranho.

-Eu?

-É... Seu jeito de falar...

-Bem, na verdade sou brasileiro.

-Brasileiro?

-É... Meus pais são alemães, mas eu nasci no Brasil.

-Onde fica o Brasil?

-Fica na América.

-É bonito lá?

-Sim... Eu tenho um retrato, quer ver?

-Quero!

-Vem comigo...

Seguimos até meu quarto, correndo. Empurrei a porta que estava entreaberta, abri a gaveta do criadomudo e falei sentando-me à cama:

-Olha!

-Nossa!... Parece um lugar bonito... Onde é?

-Praça da República, em São Paulo.

-São Paulo é a capital do Brasil?

-Não, a capital é Rio de Janeiro.

-Entendi. Quero um dia poder conhecer o Brasil...

-Se quiser eu te levo quando eu for.

-Quando?

-O mais rápido possível... Não vejo a hora de voltar para o calor brasileiro.

-Por quê? No Brasil não faz frio?

-Faz, mas não como aqui na Alemanha. Bom, pelo menos em São Paulo...

-E do que você mais sente falta dessa cidade?

-Humpft... Da garoa nas tardes paulistana... De tomar chá com minha mãe no Jardim da Luz...

-Jardim da Luz?

-É... Em frente tem a estação de trem...

-Acho que terei muita coisa pra conhecer em São Paulo.

-Vou te apresentar para os meus amigos, e faremos um campeonato de peão.

-Você também joga peão?

-Sim.

-Que legal! Adoro brincar com peão, mas não tenho com quem...

-E os garotos da sua rua?

-Eles não gostam de mim...

-Ué... Por quê?

-Porque sou judeu.

-O que acha de brincarmos juntos?

-Adorei a idéia! Mas agora preciso ir.

-Mas já?

-Sim... Hoje é sexta feira, dia de Shabat¹.

-Quem é Shabat?

-Depois te explico.

-Humpft... Ta bom.

-Entregue isso a sua mãe. - Entregou-me o pacote.

-Tudo bem.

Corremos até a porta e ao abri-la, fiquei olhando ele correr pelo corredor e antes que ele descesse a escada chamei:

-Eliezer!?

-Ja?

-Você volta?

-Volto!

Após trocarmos um sorriso, fechei a porta e ele foi embora. Confesso que fiquei feliz, pois acabava de ganhar um amigo naquela terra de pessoas estranhas e fria. Até que ele não era tão esquisito quanto aparentava, e gostava de peão, algo que eu também adorava.

Pouco tempo depois minha mãe chegou com uma sacola. Encontrando-me na sala, exclamou fechando a porta:

-Hans!

-Mutter! Onde a senhora estava?

-Fui ao armazém comprar alguns botões.

-Ah!... O filho do dono da loja de tecidos esteve aqui. - Falei seguindo-a até a cozinha.

-Pra quê?

-Veio te trazer esse pacote.

Franzindo as sobrancelhas, colocou o pacote sobre a mesa e abriu para ver o que era.

-Ah! Mais tecido...

-A senhora comprou mais?

-Não, esse foi o que esqueci na loja.

-Hum.

Ouvimos a porta da sala bater. Olhamos para o corredor, mas não vimos ninguém passar. Segui até a sala e avistei meu pai sentado ao sofá com a cabeça baixa apoiada com as mãos.

-Vater!... Está tudo bem?

Ele não respondeu. Voltei a cozinha e falei para minha mãe que lavava as batatas:

-Mutter, o vater está estranho.

-O que ele tem?

-Não sei...

Após enxugar suas mãos, seguiu até a sala preocupada.

-Oliver... O que acontece?

Vagarosamente ele levantou sua cabeça e olhando para minha mãe falou com uma expressão cansada:

-Fui demitido.

-Demitido? Ceus!...

Incrédula, sentou-se ao sofá. Fiquei sem entender nada, pois não sabia o significado de “demitido”.

Durante quase todo o jantar o silêncio predominou, até o papai começar a falar:

-Bem... Nossa situação financeira agora vai ficar um pouco mais difícil...

-O que aconteceu, vater? - Perguntou meu irmão.

-Hoje fui despedido da empresa.

Sussurrando, perguntei a mamãe sentada ao meu lado:

-O que isso quer dizer, mutter?

-Quer dizer que seu pai não trabalha mais na empresa.

-Nossa!

Angustiada, minha mãe sugeriu:

-Vou amanhã até a loja de tecidos ver se eles aceitam de volta os tecidos que comprei...

-E morrer de frio no inverno europeu? Não seja louca, daremos um jeito para conseguir dinheiro.

-Mas Oliver, enquanto não houver outra alternativa...

-Por enquanto não estamos morrendo de fome!

-E se vendêssemos tudo e voltássemos para o Brasil?

-Jamais! Lutaremos unidos pela Alemanha.

Jogando o guardanapo sobre a mesa, mamãe respondeu levantando-se:

-Pois então não reclame se amanhã nossa família tiver que morar nas calçadas de Berlim.

Sem mais uma palavra ela seguiu para seu quarto. Assustado, olhei para o Patrick que mordia seu pão como se nada estivesse acontecendo. Permaneci calado, assim como todos à mesa.

Durante a madrugada levantei para ir ao banheiro. Quando voltava ao quarto avistei mamãe sentada ao sofá da sala, no silêncio da escuridão ao lado da tímida clara do abajur. Apoiei minha mão sobre o batente da porta e a observei por um tempo.

Percebendo minha presença, enxugou rapidamente suas lágrimas questionando:

-Hans... O que faz acordado uma hora dessas?

-Levantei para ir ao banheiro. - Respondi caminhando até ela.

Sentando-me ao seu lado, perguntei:

-Mutter... Não quero vê-la chorando.

-Não estou chorando.

-Está sim... Eu vi.

-Faden!

-Mutter... Tudo vai se resolver, a senhora vai ver.

Abraçando-me, ela comentou:

-Tenho certeza que sim, geliebt.

No outro dia o Eliezer chegou em casa logo após o almoço. Brincamos a tarde inteira, nem vimos a hora passar.

Arrumando a alça de seu suspensório, o Eliezer comentou:

-Preciso ir, Hans... Logo vai anoitecer.

-Que pena! Nos vemos amanhã então?

-Infelizmente não.

-Por quê?

-Porque é dia de Kippur.

-Então não poderemos brincar amanhã?

-Não... No kipur não podemos comer após o pôr do sol, usar calçados de couro, escovar os dentes, tomar banho, lavar a boca... O rosto de as mãos apenas podem ser lavados pelas manhãs antes das orações.

-Nossa!

O jejum do Yom Kippur não é permitido para crianças com menos de nove anos de idade, mulheres grávidas ou as que deram a luz há menos de um mês e pessoas gravemente doentes. Além disso, não se pode carregar nada, fumar, acender fogo nem usar eletricidade.



O Yom Kipur ou Kippur é um dos dias mais importantes do judaísmo. No calendário hebreu começa no crepúsculo que inicia o décimo dia do mês hebreu de Tishrei, do qual coincide com Setembro ou Outubro e continua até o seguinte pôr do sol. Os judeus tradicionalmente concebem esse feriado com um período de jejum de 25 horas e reza intensa.



Alguns dias se passaram. Na cozinha, enquanto selecionava os legumes, mamãe murmurava:

-Como estão caros!

-Falou comigo, mutter?

-Não, apenas pensei alto.

-Não vai comprar beterraba?

-Melhor não... Vou aguardar o preço abaixar... Está tudo muito caro.

Cada vez que íamos ao armazém mamãe trazia menos coisas. Os preços altos obrigavam as famílias a racionarem a comida.

Colocava o pacote com as compras sobre a mesa da cozinha quando mamãe disse-me tirando suas luvas:

-Hans... Tome! - Entregou-me umas moedas.

-Pra mim?

-Sim... Sobraram algumas moedas e estou lhe dando por ter me ajudado.

-Danke, mutter!

Sai correndo em direção à porta da sala, quando ela questionou:

-Hans... Aonde vai?

-Vou convidar o Eliezer para tomar uma gasosa!

-Cuidado para atravessar a rua.

-Ja!

Fechei a porta de casa e segui correndo até a casa do Eliezer. Entrei na loja de seu pai. Ao empurrar a porta um sininho tocou. De costas estava o senhor Boris, arrumando uma pilha de tecidos nas prateleiras próximo ao balcão do fundo.

Ao virar-se, exclamou dizendo:

-Olá, garoto!

-Boa tarde, senhor Lovitz! O Eliezer está?

-Sim, está em casa.

-Obrigado!

Deixei sua loja e toquei a campainha ao lado. Algum tempo depois ele abriu a porta surpreso:

-Hans!

-Hallo! Vim te convidar para tomarmos uma gasosa.

-Oba! Vou pegar meu casaco e já desço.

-Vou te esperar aqui.

-Está bem.

Enquanto aguardava pelo Eliezer, observava o bonde passar.

-Pronto!

-Vamos?

-Sim!

Seguimos até o bar próximo ao parque. Nos sentamos a mesa e logo veio o garçom nos abordar.

-Boa tarde, meninos!

-Boa tarde!

-O que vão querer?

-Duas gasosas, por favor. - Respondi olhando pro Eliezer e sorrindo.

-Tudo bem. - Disse o garçom anotando nosso pedido.

-Estou feliz por ter me convidado para uma gasosa!

-Ah é?

-Sim... Quase não tenho amigos...

-Mas e os garotos do grupo escolar?

-Humpft... Não gostam de mim, me acham bizarro.

-Sinceramente eu também te achei no começo.

-Verdade?

-Sim... Mas agora não te acho mais.

-Por quê?

-Porque eu te conheço e sei que você é um garoto super legal!

-Duas gasosas! - Interrompeu o garçom nos servindo ao copo.

-Danke! - Agradeci.

-Com licença.

-Hans...

-Eu?

-Você quer ser meu amigo?

-Claro que sim!

-Mesmo eu sendo judeu?

-Não vejo problemas nisso...

-Que bom!

Após tomarmos nossa gasosa fomos brincar um pouco no parque. Cheguei em casa todo sujo, fazendo minha mãe pirar.

-Mas... O que aconteceu com você?

-Estava brincando no parque...

-Brincando? Mais parece que esteve em uma guerra! Vá tirar essa roupa enquanto lhe preparo um banho.

-Ja, mutter.

Eu adorava tomar banho em dias de inverno, pois passava um bom tempo dentro da banheira com água bem quentinha, mas também só essa parte agradava-me, pois tanto na hora de entrar quanto na hora de sair era o momento mais sofrido.

No dia seguinte, no início da tarde minha mãe entrou em meu quarto dizendo:

-Hans... Tem visita pra você.

Assim que o Eliezer entrou em meu quarto ela nos deixou as sós, fechando a porta ao sair. Segurando seu peão ele caminhou até mim dizendo:

-Hallo, Hans!

-Hallo...

-Está tudo bem?

-Não muito.

-Warum¹?

-Meu vater perdeu o emprego.

-Nossa!

Sentando-se ao chão ao meu lado ele perguntou:

-Bem... Será que eu poderia ajudar?

-Acho que não...

-Eu vim pra jogarmos peão, mas se quiser posso voltar outra hora.

-Nein! Ficarmos aqui lamentando não irá ajudar. Vou pegar meu peão. - Levantei-me correndo.

Passamos horas brincando naquela tarde. O Eliezer se mostrou ser um garoto super legal, além de generoso.

-Hans...

-Hum?

-Ontem comentei com meu pai sobre o Brasil que você havia dito.

-Ah é?

-Ja...

-O que ele disse?

-Ele me contou que tem um primo morando na capital.

-Que legal! Eu nunca estive na capital.

-Nunca?

-Nunca, mas dizem que é uma cidade muito linda.

-Hans... Está ficando tarde.

-Mas nem anoiteceu ainda.

-Preciso chegar em casa antes de anoitecer para o papai acender as velas.

-Que velas?

-As velas do shabat.

-Hum...

-Nos falamos depois.

-Tudo bem.

O Shabat é iniciado ao pôr-do-sol de cada sexta-feira. Após sua obra de criação, Deus abençoou o sétimo dia, denominado Shabat, quando repousou. A tradição de respeito a esse dia é seguido por todo judeu, que acreditam no sagrado conceito: “mais do que os judeus têm guardado ao Shabat, o Shabat tem resguardado os judeus”. Por meio da história em Israel e na era diáspora, o ritual tem sido um elo entre os judeus.

Para eles, obedecer ao Shabat é imitar a Deus em todos os seus atributos morais, sendo o padrão de conduta recomendada ao homem devoto, seguindo o exemplo do criador. É durante esse dia que o homem alcança uma grande dignidade e estatura moral, por mais que se sinta oprimido ou rejeitado pelo mundo.











5 comentários:

Jôwn disse...

EXCELENTE!
Desejo sorte e sucesso, tal qual os obtidos em "Amor.com" e "Prazer em conhecer" ( Os meus preferidos)
Também sou um apaixonado pela escrita e um dos meus esplhos é você...
Estou em fase final do meu primeiro livro. Logo publicarei a sinopse dele no meu blog que criei a pouco: jonatassilvamacedo.blogspot.com
Se puder, siga-me também. Sou seguidor seu...

Abraço

VICTOR AUGSTROZE disse...

nossa lu! toh louco pra continuar a leitura! e muito curioso também... uma duvida, onde eu consigo todos os seus livros? gostaria de um dia poder conversar com vc, pois eu escrevi um livro também. (romance gay), e toh publicando no meu blog. o-contista.blogspot.com se vc puder me add pra nos conversarmos. contistasjcpianista@hotmail.com. grande beijo!

Anônimo disse...

Olá...parabéns o livro é maravilhoso! Ri e chorei muito!
Carla

Anônimo disse...

Colega, gostaria de saber como faço pra adquirir seus livros?
Meu e-mail: paulo668@ig.com.br
Atenciosamente
Paulo César

Bruhno Costa disse...

O Livro é incrível.. já estou imaginando todas as coisas que podem vir após esse capítulo... Já esou amando.. como todos os outros que já li...
P.S. Quando vão criar um filme sobre algum dos sues livros???