segunda-feira, 25 de julho de 2016

O QUE OLHOS NÃO VEEM - CAPITULO 8



            Eu não via a hora de apresentar a minha “razão de viver” aos meus amigos. Ao entrar em minha vida, o Cauê transformou-a completamente, levando-me ao paraíso sem sair do lugar, fazendo-me viver um sonho acordado.
            Cheguei à estação Armênia do metrô e fiquei esperando pelos dois. Olhei no relógio e já eram oito horas da noite, sendo que havíamos marcado para nos encontrar as oito e dez. Cinco minutos depois a Soraia chegou toda elegante, com um perfume que deixava rastro por onde passava, cheia de pose em cima de um salto agulha.
-Oi Tom!
-Boa noite! Você está linda...
            Tocando em sua mão, girei-a para ver em ângulo de 360 graus.
-Eu?
-Sim...
            Realmente, a Soraia estava muito bonita. Os olhos pintados, realçados com uma sobra brilhante moderadamente, e nos lábios um gloss, deixando-as com um ar sexy. Ao notar uma tristeza em seu olhar, não hesitei em perguntar:
-Miguxa... Você está triste?
-Ai Tom... Estou um pouco mal...
-Por quê?
-Hoje quando fui me arrumar pra vim, nenhuma roupa me servia...
-Sério?
-É... Tive que ir correndo até o shopping comprar algo pra vestir...
-Nossa!
-Fiquei muito mal.
-Eu imagino.
-Bem... Mas graças a você minha mãe tem me dado mais atenção...
-Ah é?
-Sim... Ela me incentivou a fazer um regime, ou melhor, uma reeducação alimentar através de uma nutricionista...
-Com isso eu concordo, mas ainda acho que você deveria consultar um médico.
-Você acha?
-Acho.
-É... Vou pensar...
-E, por favor, pare de se entupir com aqueles remédios que não adiantam nada.
-Tentarei.
            Com o auxílio de um funcionário o Cauê desembarcou. Guiado também com sua vareta eles caminhavam em direção às catracas quando os abordamos.
            Estando os três juntos, seguimos para a baladinha onde eu costumava frequentar. Descíamos à escada rolante quando a Soraia perguntou:
-Cauê... Como você faz pra andar sozinho por São Paulo que é tão grande?
-Eu saio com o Emílio quando vou para lugares que não conheço...
-E quando não está com o Emílio?
-Quando não estou com o Emílio eu uso a vareta para me guiar...
-Mas não é ruim andar pelo metrô? Você não tem medo de cair nos buracos das calçadas?
-Ah... Os funcionários do metrô nos ajudam a se locomover nas estações... Além de ter sinalização no piso para guiar pessoas com problemas como o meu...
            Em 2005 a Secretaria Municipal das Subprefeituras de São Paulo iniciou o Programa Passeio Livre, onde através do decreto 45.904/05 estabeleceu normas de acessibilidade, dimensões e materiais adequados para implantação de calçadas e uma forma de parceria com a iniciativa privada para reconstruir calçadas.
            Para que a padronização e acessibilidade dos passeios atinjam toda a cidade, as calçadas dos imóveis particulares também foram reformadas, sendo de responsabilidade do proprietário do imóvel a conservação, manutenção e reforma, independente se residencial ou comercial. As calçadas que estiverem irregulares ou mal conservadas são passíveis de multa.
            Em 2007 o total de calçadas reformadas na cidade já passava dos 500.000 m², sendo revestidas com pavimento de blocos Inter travados, nas cores vermelha, cinza e cinza escuro, com extremidades rebaixadas para facilitar o trânsito de cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, onde idosos, gestantes, deficientes e crianças possam transitar sem preocupação e riscos de acidentes. Há também pavimentos feitos de concreto moldado, placas pré-moldadas e ladrilho hidráulico. Os motivos que levaram a prefeitura a escolher materiais como esses foram a estética, a durabilidade e flexibilidade de remoção e recolocação, sendo econômico e ecológico, por permitir que a água penetre no solo entre os blocos.
            Ao chegarmos avistei o Kico parado à porta, vestindo uma calça preta e uma camiseta branca. Usando um boné com a aba virada para trás e os olhos pintados, nem notou nossa presença.
            Calado, aproximei-me dele e puxei seu cinto por trás, dando-lhe um susto.
-Tom! Que sustooooooo...
-Hahaha... Deixa eu te apresentar... Esse é o Cauê...
-Prazer, Cauê!
-Prazer!
-E essa é nossa amiga Soraia...
-Nossa, girl! Como você é bonita...
            Tímida, a Soraia agradeceu após cumprimentá-lo com um beijo no rosto.
-Bonita?... Obrigada!
            Nem precisou que ela dissesse para notar sua felicidade. Claro que na frente do Kico eu não falaria nada, mas depois confirmaria sem sombra de dúvidas minhas suspeitas, com discrição. Caminhando em direção à porta perguntei ao Kico:
-Você não vai entrar?
-Estou esperando o Dinho...
-A gente se vê lá dentro então.
-Certo.
            Tornei-me apoio da Soraia e do Cauê, pois ambos seguravam em meu braço, um de cada lado, estando eu ao meio, recheando o sanduiche. Procurei um canto onde pudéssemos ficar sem muitas pessoas em volta. Ao lado esquerdo encontramos uma mesa, e logo depois que nos instalamos o Kico e o Dinho nos encontraram:
-Nossa... Por que vocês estão se escondendo?
-Quem disse que estamos nos escondendo?
-Então pra que ficar aqui no canto?
-Não posso deixar o Cauê no meio do povo, ele tem deficiência visual...
-Ah!... Eu vou buscar uma cerveja e já volto...
-Beleza.
            Enquanto os dois foram ao bar, perguntei à Soraia:
-Sê... Por que você está toda solta desse jeito?
-Eu?... Como assim?
-Sim... Depois que o Kico falou que você estava bonita...
-Ai amigo... Nunca ninguém me fez um elogio desse antes...
-Sério?
-É...
            Segurando duas latas de cerveja na mão o Kico voltou, oferecendo uma delas à Soraia. Eu não era bobo, e percebi logo um clima rolando entre os dois. Por volta das nove horas toda a turma já havia chego, concentrando-nos em volta da mesa e conversando sobre diversas coisas.
            Dando um gole em sua caipirinha a Linoka perguntou:
-Tom... Quanto tempo faz que você e seu amorzinho estão namorando?
            Após um suspiro o Cauê respondeu por mim:
-Não estamos namorando, apenas ficando.
-E o que falta pra vocês namorarem?
-O Tom me pedir em namoro.
            Nesse momento todos começaram a gritar:
-Pede... Pede... Pede...
            Até a banda que tocava no palco parou e aderiu ao coro. Morri de vergonha, pois nunca havia passado por tal situação. Pedindo silêncio, toquei na mão do meu amorzinho e com uma certa timidez tentei dizer:
-Bem... Mozinho... Você aceita namorar comigo?
-Aceito!
            Todos começaram gritar:
-Aeeeeeeeeeeeeeeeee...
            Demos um beijo, e logo em seguida a banda retomou às músicas. Minhas mãos tremiam, tamanha timidez. Tirando o cigarro da boca o Kico puxou-me de lado falando:
-Tom... Será que tem jeito de você tentar um esquema com sua amiga?
-Você está falando da Soraia?
-É.
-Pra você?
-É...
-Bem... Eu posso falar com ela...
-Brigadu, migow!
            Voltei à mesa e disse no ouvido da Soraia:
-Sô... Eu acho que o Kico ficou a fim de você.
-De mim?
-É... O que você acha?
-Mas Tom, eu sou gorda...
-Não foi isso que ele disse para você...
-É verdade... Ai meu Deus...
-O que foi?
-Eu não sei o que eu faço... Ninguém nunca se interessou por mim...
-Então decide, eu posso dizer a ele que você topa conversar?
-Pode.
            Fiz apenas um sinal com a cabeça para ele que se aproximou e sentou-se ao nosso lado. Deixei-os conversando e fiquei dando atenção ao Cauê, e ao virar-me novamente avistei os dois se beijando, abraçados, trocando carinhos. Fiquei super feliz pelos dois, pois ambos eram pessoas que eu gostava, e logo contei a novidade ao Cauê que vibrou com a notícia.
-Mozinho... A Soraia e o Kico estão se beijando...
-Sério?
-É...
-Me beija também?
            Pegando o embalo dos dois, eu e o Cauê iniciamos um beijo também. Passamos uma noite muito agradável, principalmente a Soraia, que aproveitou bastante com o Kico. Fiquei muito feliz por ela, pois o meu amigo era um cara muito bacana, e eu não digo isso pelo fato dele ser meu amigo, mas sim por reconhecer o valor real das pessoas.
            Deixamos à balada já passava dás onze horas da noite. Por insistência da Soraia e do Cauê, acabamos voltando de táxi, e no estado em que a Soraia ficou após beber meio copo de batida, não seria seguro se ela voltasse de metrô.


Nenhum comentário: