| A transa |
Alguns dias se passaram. Durante esse período eu e o Leonardo nos aproximamos
cada vez mais, claro que graças à minha insistência e empenho, porque se
dependesse daquela mosca morta.
A paz quase reinou em
minha vida, se não fosse a Talita para aloprar minhas ideias.
-Alô?
-Fala,
Talita?
-Estou
ligando para saber se você tem alguma novidade.
-Ainda
não.
Enquanto ela falava, crianças gritavam ao fundo.
-Quanta
moleza...
-Você me
ligou pra aloprar minhas ideias? - Falei levantando-me da cama.
-Longe de
mim fazer isso.
-Que
gritaria é essa, Talita?
-É que
estou na escola das crianças...
-Credo!
-Pois
é... Esse inferno...
-Hahaha...
Pensei que você gostasse de crianças.
-Detesto
criança.
-E seus
filhos?
-Com
exceção a eles, claro.
-Sei...
-Esse
final de semana vou aproveitar pra pintar o quarto deles.
-Eles não
vão passar mal com o cheiro?
-Esqueceu
que aos sábados o Leonardo passa para buscá-los?
-É mesmo!
De repente surgiu-me uma ideia:
-Me
responde uma coisa... E se ele não for buscar as crianças?
-Problema
é dele... Por enquanto os finais de semana ele tem a responsabilidade com os
filhos.
-Entendi.
-Mas você
nem é louco de usar isso como desculpa pra não agir.
-Calma...
Eu nem pensei nisso.
-Ah,
claro... Você é bem mais experto do que eu pensava... Meus filhos estão vindo,
preciso desligar.
-Tudo
bem.
-Seja
rápido. Tchau.
Desliguei o telefone e fui procurar algo para fazer. Sempre desconfiei que a
Talita não gostava de seus filhos, só o que eu não entendia era o real motivo
pelo qual ela queria a guarda dos filhos. Como isso não era da minha conta, não
iria aprofundar-me na questão.
Na TV não estava passando nada de interessante. Enquanto esquentava algo para
comer, o telefone tocou:
-Alô?
-Eaí, moleque!
-Eaí, moleque!
-Oi, Léo!
Droga! Aquele cara era
muito chato. Pensava ser o dono da verdade. Sinceramente, estava sendo um porre
ter que fingir interesse nele, porém, o dinheiro falava mais alto, único motivo
que me fazia continuar envolvido naquele plano imbecil.
-O que
você está fazendo ai de bom? - Questionou o Leonardo com sorriso na voz.
-Nada...
Não tem nada que preste na TV... E você?
-Daqui a
pouco começa meu plantão na Emergência...
-E vai
até que horas?
-Ficarei
no plantão por 24 horas.
-Caraca!...
Eu queria sair um pouco...
-Lamento não
poder te acompanhar. Vida de médico é assim...
-Ainda
bem. -
Pensei.
-Mas não
faltarão oportunidades. Vá e se divirta.
-O quê?
Você... Não se importa se eu for pra balada sozinho?
-Me
importo, mas confio em você... Não tenho o direito de lhe prender.
-Bem,
então darei uma saída rápida, só pra esfriar as ideias.
-Juízo,
garoto.
-Pode
deixar.
Desliguei o telefone e
fui me vestir para sair, pois a noite estava só começando. Acabei nem comendo o
macarrão que havia deixado esquentando no micro-ondas e caí na balada, louco
pra ferver com muita gente bonita e muita bebida, é claro.
Dancei até não aguentar
mais. Suei como uma pedra de gelo ao sol, mas a melhor parte foi ter deixado à
balada acompanhado. Conheci um carinha e acabamos indo pra casa, onde transamos
até o dia amanhecer. Perdi as contas de quantos copos de caipirinha havia
bebido, de quantas bocas havia beijado, pois o que eu queria mesmo era curtir.
Não vou dizer que eu era santo, pelo contrário, adorava aprontar, mas posso
afirmar com certeza de que não levava uma vida boemia e arriscada. Claro que
uma escapadinha de vez em quando não fazia mal a ninguém, pelo contrário,
ajudava a quebrar a rotina chata de marajá que eu provisoriamente estava
levando.
Acordei com um copo
d'água na cara. Levei um susto, pois estava em meus mais profundos sonos
eróticos.
-Talita! - Exclamei assustado.
-Vamos
acabar com essa pouca vergonha aqui...
Tirando o lençol, ela
praticamente jogou o garoto ao chão. Fiquei morrendo de vergonha, e o pior de
tudo, eu se quer lembrava seu nome.
-Cai fora
garoto... Antes que eu te jogue pela janela... - Disse a Talita.
Após vestir-se
rapidamente o rapaz saiu, constrangido e sem entender nada. Claro que ela fez
aquilo de propósito, pois sabia que por baixo daqueles lençóis não havia nada
mais que dois corpos masculinos nus.
Cobrindo-me novamente
com um lençol, questionei:
-Não dava
pra bater na porta... Tocar a campainha?
Caminhando em direção à sala, a Talita falava:
-Esqueceu
que quem paga isso aqui, meu bem, sou eu?
-Eu sei,
mas pelo menos poderia avisar que estava vindo...
Sentando-se ao sofá ela
disse:
-Resolvi
de última hora... Que palhaçada, hein!?
-Quer
dizer logo o que veio fazer aqui? -Questionei enrolando uma toalha à cintura.
-Estou
achando muito demorado seu processo pra conseguir alguma coisa.
-Pensa
que é fácil?
-Eu não
disse isso.
-Seu
ex-marido é "perfeitinho" demais, não consegui ainda encontrar algo
que se possa usar contra.
-Pois
então forje.
-Forjar?
-É.
-Mas
Talita... Eu não sei como fazer...
-Sua mãe
também teve que lhe ensinar a fazer sexo?
-Não!
-Já estou
começando a me arrepender de ter contratado seus serviços.
-Faço o
que eu posso.
-Se
trepar com um magrelo horroroso daquele é o máximo que você pode fazer, sinto
muito, mas dispenso sua ajuda... Nem devem ter usado camisinha... - Comentou fazendo
cara de nojo.
-Claro
que usamos! Eu estava bêbado, mas não louco.
-Sei...
Bem, a sua vida sexual pouco me interessa. Eu quero uma prova de que vale a
pena continuar investindo em você.
-Está
bem.
Pegando sua bolsa ela
levantou-se do sofá dizendo:
-Você tem
até domingo pra isso. Caso contrário terá que voltar a dividir um quarto de
pensão com um monte de pedreiros, deitando em lençol verde limão encardido...
-Mas hoje
já é sexta...
Caminhando em direção à
porta ela respondeu:
-Cada um
com seus problemas, meu filho.
Após abri-la, deu-me um
selinho e concluiu:
-Boa
sorte, querido!
Maldita! Nem conseguia
desfrutar direito da boa vida, com aquela insuportável no meu pé vigiando meus
passos. Eu tinha que dar um jeito de conseguir algo que a interessasse, mas
nenhuma ideia me vinha à cabeça.
Enquanto recolhia as
embalagens de camisinha vazias caídas pelo chão, tive uma ideia. Após um breve
banho morno e devorar o macarrão da noite anterior, peguei o telefone e disquei
para o Leonardo:
-Alô?
-Fala,
meu moleque?
-Como
você está?
-Cansado,
com sono...
-Ainda no
plantão?
-Sim...
Mas estou em horário de almoço agora.
-Vem me
fazer companhia depois?
-Mas eu
vou estar exausto, faminto...
-Eu te
faço uma massagem e preparo um jantar bem gostoso pra nós.
-Tentação!
Desse jeito eu não resisto...
-Vem me
fazer feliz, gato?
-Está
bem, eu vou.
-Oba!
-Assim
que terminar meu plantão eu posso ai...
-Tudo
bem.
Desliguei o telefone e
em seguida liguei para minha mãe.
-Alô?
-Oi, mãe!
-Oi Clau!
-Estou
com um problema...
-Que cê
tem, meu filho?
-Não
estou conseguindo dormir direito à noite... A senhora ainda tem aquela receita
do chá?
-Claro!
-Pode
dizer enquanto eu anoto...
Anotei o nome das
ervas, e logo em seguida fui ao mercado municipal comprá-las. Minha intenção
era fazer com que o Leonardo dormisse até a metade do outro dia, porém, sem
utilizar a bebida alcoólica como aliada, pois ele poderia desconfiar.
Já eram quase meia
noite quando ele chegou em casa. Abri à porta. Peguei sua maleta, seu jaleco e
os coloquei sobre o sofá.
-Boa
noite, meu moleque!
-Boa
noite!
Cumprimentamo-nos com
um beijo na boca. Segurando em sua mão, o levei até a cama onde continuamos
nosso beijo. O Leonardo era um cara muito gostoso, tinha uma pegada forte, e
tesão de um garoto de 20 anos, insaciável, mas isso só fui descobrir após nossa
primeira noite de “amor”.
No esquentar do clima
nossas roupas se perdiam pelo chão, até ficarmos totalmente nus. Fizemos sexo
selvagem, intercalado com beijos, lambidas, chupadas.
-Moleque,
moleque... Novinho desse jeito e já trepa como ninguém. - Comentou alisando
minha perna.
-Está
querendo dizer que eu sou rodado?
-Não...
Quero dizer que você é gostoso.
-Hum...
Acariciando minha barriga,
ele continuou:
-Vamos
tomar um banho?
-Claro!
Só foi nos ensaboarmos
para o tesão voltar. Transamos novamente ali mesmo, no banheiro, com a água
quente caindo sobre nossas costas, ensaboados, molhados, famintos de prazer.
-Antes de
dormir, vou preparar um chá para você. - Comentei enquanto nos enxugávamos.
-Obrigado,
mas eu detesto chá.
-Nossa!
Eu ia preparar com tanto carinho...
-Desculpa,
meu moleque... Mas eu detesto.
-Tudo
bem.
Inferno! Agora eu
estava ferrado, pois se ele não tomasse o maldito chá, meu plano iria por água
abaixo. De certa forma eu merecia, porque utilizar-se de uma ideia tão
primitiva como aquela, seria sorte demais sair-se bem sucedido sem causar
nenhuma desconfiança.
Já deitados à cama,
apenas de cueca, o Leonardo colocou seu celular para despertar. Naquele
instante enxerguei uma nova esperança, pois lembrei-me do comentário da Talita
sobre seus filhos.
-O que
você está fazendo?
- Questionei já com a maldade em alta.
-Colocando
meu celular pra despertar... Amanhã preciso buscar as crianças...
Esperei que ele
dormisse para tirar a bateria de seu celular, com isso o Leonardo acabaria
perdendo a hora para ir buscar as crianças na casa daquela maluca. Claro que eu
sabia que sua ausência poderia prejudicá-lo perante a justiça, pois sua
ex-mulher certamente utilizaria muito bem a oportunidade, podendo alegar
irresponsabilidade da parte dele, isso contava pontos a favor dela.
Cansado depois de ter trabalhado por vinte e quatro horas seguidas, o Leonardo
dormiria por um longo período de horas, e claro, se dependesse de mim, não
teria a “coragem” de atrapalhá-lo.
Dormimos deliciosamente abraçados, ou melhor, ele dormiu, porque eu quase nem
preguei o olho pensando no que aconteceria quando ele acordasse. Tudo que eu
fosse aprontar deveria pensar na tática de como sobressair depois, porque se
não planejasse com cuidado, o feitiço poderia virar contra o feiticeiro. Pra
falar a verdade eu estava brincando com uma faca de dois gumes, pois de um lado
eu tinha a Talita fazendo-me pressão pra arrancar algo comprometedor de seu
ex-marido, por outro lado tinha o Leonardo, que poderia descobrir tudo a
qualquer momento no primeiro vacilo que eu desse.
No outro dia acordei
por volta dás oito da manhã. Levantei-me cuidadosamente para não fazer barulho.
Fechei à porta do quarto e deitei-me um pouco ao sofá, pois ainda eram sete da
manhã e meus olhos estavam pesados como se tivessem derramado um saco de areia.
Quanto mais tempo o Leonardo ficasse dormindo, melhor. Parado, olhando para o
pêndulo do relógio, logo adormeci.
Se tudo desse certo, a
Talita ficaria feliz com minha competência, e claro, seria bem visto aos olhos
dela, depositando mais confiança em mim.
Acordei algum tempo
depois com o corpo todo dolorido. O relógio da sala marcava onze horas da
manhã. Ainda tonto, levantei-me e fui até o banheiro passar uma água no rosto.
Vestindo uma bermuda e um chinelo de dedo preto, desci até a padaria, onde
comprei pão, queijo, presunto, leite, e um bolo de laranja que havia saído àquela
hora.
Ao voltar, abri à porta da sala cuidadosamente para não fazer barulho. Coloquei
as compras sobre a mesa, em seguida caminhei até o quarto para espiar como o
Leonardo estava. Ainda dormia como um anjo, todo esparramado.
Enquanto a cafeteira
aprontava o café, arrumei à mesa com tudo que havia comprado. Claro que aquilo
foi uma estratégia, pois dessa forma o Leonardo não brigaria muito comigo, pelo
menos era o que eu esperava.
Minha barriga gritava de fome. Em alguns momentos tive que me segurar para não
ir acordá-lo, pois eu não aguentava mais esperá-lo para abocanhar aquele bolo.
Faltavam dez minutos
para dar uma hora da tarde quando o Leonardo acordou. Vestindo apenas uma cueca
samba-canção ele foi até a sala, e bocejando perguntou:
-Que
horas são?
Desviando o assunto,
exclamei:
-Leo!
Olha só o que preparei pra você? - Falei com um sorriso na cara apontando para
a mesa.
-Pra mim? - Questionou surpreso.
-É...
Para o meu gatão, gostosão...
Dei-lhe um abraço e
deslizei minha mão até sua bunda. Puxando-me ainda mais próximo pra junto dele
com sua pegada forte, começou a me beijar. O Leonardo tinha uma saúde
invejável. Acordava e dormia com pique e tesão para fazer sexo, e claro, muito
bem feito.
Já estávamos nus,
deitados ao chão, suados de tanto nos roçar. Enquanto ele chupava meu pescoço
eu puxava seus cabelos, o deixando ainda mais louco de tesão.
Ofegante, o Leonardo falava:
-Moleque...
Você é um tesão, sabia?
-Se você
diz, eu acredito... Mesmo que seja só pra dar uma trepada.
Parando o que estava
fazendo, olhou para mim e disse trocando olhares:
-Não fale
assim.
-Por quê?
-Porque
eu não trepo com você, faço amor. Se eu quisesse apenas foder, iria procurar
uma puta na rua...
-Desculpa.
Acariciando meu rosto,
ele falou com carinha de órfão:
-Estou
curtindo ficar com você...
-Também tô.
Era só o que faltava,
eu começar a receber declarações de amor daquele trouxa. Tudo bem que o
Leonardo era um cara bonito e gostoso, quanto a isso não precisei de esforço
algum para encará-lo, mas daí ter que ouvir melosidades por conta de uma
suporta paixão, isso já era demais pra mim.
Comecei a chupá-lo,
iniciando pela orelha e fui descendo para ver até onde iria aguentar. Quando
estava quase na barriga, o Leonardo deu-me um empurrão exclamando:
-Caralho!
Sem entender o que
acontecia e assustado, questionei:
-O que
foi?
Levantando-se
rapidamente, o Leonardo dirigiu-se até o quarto dizendo:
-Estou
super atrasado para ir buscar meus filhos na casa da mãe deles...
-Mas você
não pode ir no dia e hora que quiser?
Vestindo rapidamente
sua calça, ele falava:
-Claro
que não. Tenho dia e horário para buscar e levá-los.
-Nossa!
-Eu pedi
para você me acordar, não pedi? - Questionou bufando.
-Desculpa?
Eu não sabia que era tão grave assim...
-Tudo bem,
sei que você não fez por mal.
Ainda vestindo sua
camisa ele dirigiu-se à porta, apressado. Entregando-lhe a pasta, questionei:
-Você não
vai nem tomar café da manhã comigo? - Perguntei fazendo cara de cachorro
abandonado.
Pegando sua pasta da
minha mão, ele respondeu:
-Oh!...
Eu queria muito, mas não vou poder.
Antes que ele saísse,
fiz um charme:
-Mas
preparei tudo com tanto carinho...
Intercalando com um
selinho, ele falou:
-Não
tenho dúvidas disso, meu gato. Mais tarde te ligo.
Apoiando-me ao batente da
porta, disse:
-Tudo
bem... Vou te aguardar.
-Tchau.
Depois que ele entrou
no elevador, fechei à porta, rindo. Pouco a pouco eu ia descobrindo em mim um
talento oculto para fingir, revelando-me um bom ator.
Curioso para saber a reação da Talita, telefonei minutos depois:
-Alô?
-O
Leonardo já chegou ai? - Perguntei deitando-me à cama.
-Ainda
não.
-Eu
sei... Ele acabou de sair daqui.
Nervosa, ela
questionou:
-Mas como
assim?
Sem paciência,
respondi:
-Olha
aqui, minha filha... Você precisava de um motivo para adicionar no processo, e
isso eu acabei de te ajudar a conseguir.
-Você
está sendo pago pra isso.
-Fiz o
que estava ao meu alcance. Se você não está satisfeita, faça melhor então.
-Abusado!
-Talita...
Não sou burro, nem vem querendo me fazer pressão. Sei muito bem que o fato do
Leonardo não ir buscar as crianças no horário pode muito bem ser usado contra
ele no processo. Portanto, não me venha com lorotas, porque sou muito mais
experto do que você imagina.
Sabendo que não estava
lhe dando com um leigo, ela baixou a bola e amansou a fera habitante de seu
interior:
-O que
você fez para que ele atrasasse?
-Mantive
ele dormindo até tarde.
-Não
creio que você foi tão amador a ponto de dar um "boa noite Cinderela"
nele. Esqueceu que o Leonardo é médico? - Disse debochando.
-Não seja
imbecil. Até preparei um chá que minha mãe fazia, mas ele não quis. É obvio que
não apelaria para outros meios.
-Tá
certo...
-Agora é
com você. Minha parte eu já fiz.
-Entendo,
mas ainda é pouco. Preciso de mais...
-Vou
preparar e assim que tiver algo concreto, te comunico.
-Seja
rápido.
-Tenha
uma boa tarde!
A Talita era muito
folgada. Ela deveria me agradecer um pouco mais, pois não era nada fácil ter
que conviver com aquele insuportável do Leonardo, que além de fresco, era paranoico
pelos filhos.
Próximo capítulo: | Nem
funcionário escapa |
Dia 15/03
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