segunda-feira, 14 de março de 2016

LIVRO: PROFISSÃO AMANTE - CAPITULO 11



| A transa |
  
            Alguns dias se passaram. Durante esse período eu e o Leonardo nos aproximamos cada vez mais, claro que graças à minha insistência e empenho, porque se dependesse daquela mosca morta.
A paz quase reinou em minha vida, se não fosse a Talita para aloprar minhas ideias.
-Alô?
-Fala, Talita?
-Estou ligando para saber se você tem alguma novidade.
-Ainda não.
            Enquanto ela falava, crianças gritavam ao fundo.
-Quanta moleza...
-Você me ligou pra aloprar minhas ideias? - Falei levantando-me da cama.
-Longe de mim fazer isso.
-Que gritaria é essa, Talita?
-É que estou na escola das crianças...
-Credo!
-Pois é... Esse inferno...
-Hahaha... Pensei que você gostasse de crianças.
-Detesto criança.
-E seus filhos?
-Com exceção a eles, claro.
-Sei...
-Esse final de semana vou aproveitar pra pintar o quarto deles.
-Eles não vão passar mal com o cheiro?
-Esqueceu que aos sábados o Leonardo passa para buscá-los?
-É mesmo!
            De repente surgiu-me uma ideia:
-Me responde uma coisa... E se ele não for buscar as crianças?
-Problema é dele... Por enquanto os finais de semana ele tem a responsabilidade com os filhos.
-Entendi.
-Mas você nem é louco de usar isso como desculpa pra não agir.
-Calma... Eu nem pensei nisso.
-Ah, claro... Você é bem mais experto do que eu pensava... Meus filhos estão vindo, preciso desligar.
-Tudo bem.
-Seja rápido. Tchau.
            Desliguei o telefone e fui procurar algo para fazer. Sempre desconfiei que a Talita não gostava de seus filhos, só o que eu não entendia era o real motivo pelo qual ela queria a guarda dos filhos. Como isso não era da minha conta, não iria aprofundar-me na questão.
            Na TV não estava passando nada de interessante. Enquanto esquentava algo para comer, o telefone tocou:
-Alô?
-Eaí, moleque!
-Oi, Léo!
Droga! Aquele cara era muito chato. Pensava ser o dono da verdade. Sinceramente, estava sendo um porre ter que fingir interesse nele, porém, o dinheiro falava mais alto, único motivo que me fazia continuar envolvido naquele plano imbecil.
-O que você está fazendo ai de bom? - Questionou o Leonardo com sorriso na voz.
-Nada... Não tem nada que preste na TV... E você?
-Daqui a pouco começa meu plantão na Emergência...
-E vai até que horas?
-Ficarei no plantão por 24 horas.
-Caraca!... Eu queria sair um pouco...
-Lamento não poder te acompanhar. Vida de médico é assim...
-Ainda bem. - Pensei.
-Mas não faltarão oportunidades. Vá e se divirta.
-O quê? Você... Não se importa se eu for pra balada sozinho?
-Me importo, mas confio em você... Não tenho o direito de lhe prender.
-Bem, então darei uma saída rápida, só pra esfriar as ideias.
-Juízo, garoto.
-Pode deixar.
Desliguei o telefone e fui me vestir para sair, pois a noite estava só começando. Acabei nem comendo o macarrão que havia deixado esquentando no micro-ondas e caí na balada, louco pra ferver com muita gente bonita e muita bebida, é claro.
Dancei até não aguentar mais. Suei como uma pedra de gelo ao sol, mas a melhor parte foi ter deixado à balada acompanhado. Conheci um carinha e acabamos indo pra casa, onde transamos até o dia amanhecer. Perdi as contas de quantos copos de caipirinha havia bebido, de quantas bocas havia beijado, pois o que eu queria mesmo era curtir.
            Não vou dizer que eu era santo, pelo contrário, adorava aprontar, mas posso afirmar com certeza de que não levava uma vida boemia e arriscada. Claro que uma escapadinha de vez em quando não fazia mal a ninguém, pelo contrário, ajudava a quebrar a rotina chata de marajá que eu provisoriamente estava levando. 
Acordei com um copo d'água na cara. Levei um susto, pois estava em meus mais profundos sonos eróticos.
-Talita! - Exclamei assustado.
-Vamos acabar com essa pouca vergonha aqui...
Tirando o lençol, ela praticamente jogou o garoto ao chão. Fiquei morrendo de vergonha, e o pior de tudo, eu se quer lembrava seu nome.
-Cai fora garoto... Antes que eu te jogue pela janela... - Disse a Talita.
Após vestir-se rapidamente o rapaz saiu, constrangido e sem entender nada. Claro que ela fez aquilo de propósito, pois sabia que por baixo daqueles lençóis não havia nada mais que dois corpos masculinos nus.
Cobrindo-me novamente com um lençol, questionei:
-Não dava pra bater na porta... Tocar a campainha?
            Caminhando em direção à sala, a Talita falava:
-Esqueceu que quem paga isso aqui, meu bem, sou eu?
-Eu sei, mas pelo menos poderia avisar que estava vindo...
Sentando-se ao sofá ela disse:
-Resolvi de última hora... Que palhaçada, hein!?
-Quer dizer logo o que veio fazer aqui? -Questionei enrolando uma toalha à cintura.
-Estou achando muito demorado seu processo pra conseguir alguma coisa.
-Pensa que é fácil?
-Eu não disse isso.
-Seu ex-marido é "perfeitinho" demais, não consegui ainda encontrar algo que se possa usar contra.
-Pois então forje.
-Forjar?
-É.
-Mas Talita... Eu não sei como fazer...
-Sua mãe também teve que lhe ensinar a fazer sexo?
-Não!
-Já estou começando a me arrepender de ter contratado seus serviços.
-Faço o que eu posso.
-Se trepar com um magrelo horroroso daquele é o máximo que você pode fazer, sinto muito, mas dispenso sua ajuda... Nem devem ter usado camisinha... - Comentou fazendo cara de nojo.
-Claro que usamos! Eu estava bêbado, mas não louco.
-Sei... Bem, a sua vida sexual pouco me interessa. Eu quero uma prova de que vale a pena continuar investindo em você.
-Está bem.
Pegando sua bolsa ela levantou-se do sofá dizendo:
-Você tem até domingo pra isso. Caso contrário terá que voltar a dividir um quarto de pensão com um monte de pedreiros, deitando em lençol verde limão encardido...
-Mas hoje já é sexta...
Caminhando em direção à porta ela respondeu:
-Cada um com seus problemas, meu filho.
Após abri-la, deu-me um selinho e concluiu:
-Boa sorte, querido!
Maldita! Nem conseguia desfrutar direito da boa vida, com aquela insuportável no meu pé vigiando meus passos. Eu tinha que dar um jeito de conseguir algo que a interessasse, mas nenhuma ideia me vinha à cabeça.
Enquanto recolhia as embalagens de camisinha vazias caídas pelo chão, tive uma ideia. Após um breve banho morno e devorar o macarrão da noite anterior, peguei o telefone e disquei para o Leonardo:
-Alô?
-Fala, meu moleque?
-Como você está?
-Cansado, com sono...
-Ainda no plantão?
-Sim... Mas estou em horário de almoço agora.
-Vem me fazer companhia depois?
-Mas eu vou estar exausto, faminto...
-Eu te faço uma massagem e preparo um jantar bem gostoso pra nós.
-Tentação! Desse jeito eu não resisto...
-Vem me fazer feliz, gato?
-Está bem, eu vou.
-Oba!
-Assim que terminar meu plantão eu posso ai...
-Tudo bem.
Desliguei o telefone e em seguida liguei para minha mãe.
-Alô?
-Oi, mãe!
-Oi Clau!
-Estou com um problema...
-Que cê tem, meu filho?
-Não estou conseguindo dormir direito à noite... A senhora ainda tem aquela receita do chá?
-Claro!
-Pode dizer enquanto eu anoto...
Anotei o nome das ervas, e logo em seguida fui ao mercado municipal comprá-las. Minha intenção era fazer com que o Leonardo dormisse até a metade do outro dia, porém, sem utilizar a bebida alcoólica como aliada, pois ele poderia desconfiar. 
Já eram quase meia noite quando ele chegou em casa. Abri à porta. Peguei sua maleta, seu jaleco e os coloquei sobre o sofá.
-Boa noite, meu moleque!
-Boa noite!
Cumprimentamo-nos com um beijo na boca. Segurando em sua mão, o levei até a cama onde continuamos nosso beijo. O Leonardo era um cara muito gostoso, tinha uma pegada forte, e tesão de um garoto de 20 anos, insaciável, mas isso só fui descobrir após nossa primeira noite de “amor”.
No esquentar do clima nossas roupas se perdiam pelo chão, até ficarmos totalmente nus. Fizemos sexo selvagem, intercalado com beijos, lambidas, chupadas.
-Moleque, moleque... Novinho desse jeito e já trepa como ninguém. - Comentou alisando minha perna.
-Está querendo dizer que eu sou rodado?
-Não... Quero dizer que você é gostoso.
-Hum...
Acariciando minha barriga, ele continuou:
-Vamos tomar um banho?
-Claro!
Só foi nos ensaboarmos para o tesão voltar. Transamos novamente ali mesmo, no banheiro, com a água quente caindo sobre nossas costas, ensaboados, molhados, famintos de prazer.
-Antes de dormir, vou preparar um chá para você. - Comentei enquanto nos enxugávamos.
-Obrigado, mas eu detesto chá.
-Nossa! Eu ia preparar com tanto carinho...
-Desculpa, meu moleque... Mas eu detesto.
-Tudo bem.
Inferno! Agora eu estava ferrado, pois se ele não tomasse o maldito chá, meu plano iria por água abaixo. De certa forma eu merecia, porque utilizar-se de uma ideia tão primitiva como aquela, seria sorte demais sair-se bem sucedido sem causar nenhuma desconfiança.
Já deitados à cama, apenas de cueca, o Leonardo colocou seu celular para despertar. Naquele instante enxerguei uma nova esperança, pois lembrei-me do comentário da Talita sobre seus filhos.
-O que você está fazendo? - Questionei já com a maldade em alta.
-Colocando meu celular pra despertar... Amanhã preciso buscar as crianças...
Esperei que ele dormisse para tirar a bateria de seu celular, com isso o Leonardo acabaria perdendo a hora para ir buscar as crianças na casa daquela maluca. Claro que eu sabia que sua ausência poderia prejudicá-lo perante a justiça, pois sua ex-mulher certamente utilizaria muito bem a oportunidade, podendo alegar irresponsabilidade da parte dele, isso contava pontos a favor dela.
            Cansado depois de ter trabalhado por vinte e quatro horas seguidas, o Leonardo dormiria por um longo período de horas, e claro, se dependesse de mim, não teria a “coragem” de atrapalhá-lo.
            Dormimos deliciosamente abraçados, ou melhor, ele dormiu, porque eu quase nem preguei o olho pensando no que aconteceria quando ele acordasse. Tudo que eu fosse aprontar deveria pensar na tática de como sobressair depois, porque se não planejasse com cuidado, o feitiço poderia virar contra o feiticeiro. Pra falar a verdade eu estava brincando com uma faca de dois gumes, pois de um lado eu tinha a Talita fazendo-me pressão pra arrancar algo comprometedor de seu ex-marido, por outro lado tinha o Leonardo, que poderia descobrir tudo a qualquer momento no primeiro vacilo que eu desse.
No outro dia acordei por volta dás oito da manhã. Levantei-me cuidadosamente para não fazer barulho. Fechei à porta do quarto e deitei-me um pouco ao sofá, pois ainda eram sete da manhã e meus olhos estavam pesados como se tivessem derramado um saco de areia. Quanto mais tempo o Leonardo ficasse dormindo, melhor. Parado, olhando para o pêndulo do relógio, logo adormeci.
Se tudo desse certo, a Talita ficaria feliz com minha competência, e claro, seria bem visto aos olhos dela, depositando mais confiança em mim.
Acordei algum tempo depois com o corpo todo dolorido. O relógio da sala marcava onze horas da manhã. Ainda tonto, levantei-me e fui até o banheiro passar uma água no rosto. Vestindo uma bermuda e um chinelo de dedo preto, desci até a padaria, onde comprei pão, queijo, presunto, leite, e um bolo de laranja que havia saído àquela hora.
            Ao voltar, abri à porta da sala cuidadosamente para não fazer barulho. Coloquei as compras sobre a mesa, em seguida caminhei até o quarto para espiar como o Leonardo estava. Ainda dormia como um anjo, todo esparramado.
Enquanto a cafeteira aprontava o café, arrumei à mesa com tudo que havia comprado. Claro que aquilo foi uma estratégia, pois dessa forma o Leonardo não brigaria muito comigo, pelo menos era o que eu esperava.
            Minha barriga gritava de fome. Em alguns momentos tive que me segurar para não ir acordá-lo, pois eu não aguentava mais esperá-lo para abocanhar aquele bolo.
Faltavam dez minutos para dar uma hora da tarde quando o Leonardo acordou. Vestindo apenas uma cueca samba-canção ele foi até a sala, e bocejando perguntou:
-Que horas são?
Desviando o assunto, exclamei:
-Leo! Olha só o que preparei pra você? - Falei com um sorriso na cara apontando para a mesa.
-Pra mim? - Questionou surpreso.
-É... Para o meu gatão, gostosão...
Dei-lhe um abraço e deslizei minha mão até sua bunda. Puxando-me ainda mais próximo pra junto dele com sua pegada forte, começou a me beijar. O Leonardo tinha uma saúde invejável. Acordava e dormia com pique e tesão para fazer sexo, e claro, muito bem feito.
Já estávamos nus, deitados ao chão, suados de tanto nos roçar. Enquanto ele chupava meu pescoço eu puxava seus cabelos, o deixando ainda mais louco de tesão.
            Ofegante, o Leonardo falava:
-Moleque... Você é um tesão, sabia?
-Se você diz, eu acredito... Mesmo que seja só pra dar uma trepada.
Parando o que estava fazendo, olhou para mim e disse trocando olhares:
-Não fale assim.
-Por quê?
-Porque eu não trepo com você, faço amor. Se eu quisesse apenas foder, iria procurar uma puta na rua...
-Desculpa.
Acariciando meu rosto, ele falou com carinha de órfão:
-Estou curtindo ficar com você...
-Também tô.
Era só o que faltava, eu começar a receber declarações de amor daquele trouxa. Tudo bem que o Leonardo era um cara bonito e gostoso, quanto a isso não precisei de esforço algum para encará-lo, mas daí ter que ouvir melosidades por conta de uma suporta paixão, isso já era demais pra mim.
Comecei a chupá-lo, iniciando pela orelha e fui descendo para ver até onde iria aguentar. Quando estava quase na barriga, o Leonardo deu-me um empurrão exclamando:
-Caralho!
Sem entender o que acontecia e assustado, questionei:
-O que foi?
Levantando-se rapidamente, o Leonardo dirigiu-se até o quarto dizendo:
-Estou super atrasado para ir buscar meus filhos na casa da mãe deles...
-Mas você não pode ir no dia e hora que quiser?
Vestindo rapidamente sua calça, ele falava:
-Claro que não. Tenho dia e horário para buscar e levá-los.
-Nossa!
-Eu pedi para você me acordar, não pedi? - Questionou bufando.
-Desculpa? Eu não sabia que era tão grave assim...
-Tudo bem, sei que você não fez por mal.
Ainda vestindo sua camisa ele dirigiu-se à porta, apressado. Entregando-lhe a pasta, questionei:
-Você não vai nem tomar café da manhã comigo? - Perguntei fazendo cara de cachorro abandonado.
Pegando sua pasta da minha mão, ele respondeu:
-Oh!... Eu queria muito, mas não vou poder.
Antes que ele saísse, fiz um charme:
-Mas preparei tudo com tanto carinho...
Intercalando com um selinho, ele falou:
-Não tenho dúvidas disso, meu gato. Mais tarde te ligo.
Apoiando-me ao batente da porta, disse:
-Tudo bem... Vou te aguardar.
-Tchau.
Depois que ele entrou no elevador, fechei à porta, rindo. Pouco a pouco eu ia descobrindo em mim um talento oculto para fingir, revelando-me um bom ator.
            Curioso para saber a reação da Talita, telefonei minutos depois:
-Alô?
-O Leonardo já chegou ai? - Perguntei deitando-me à cama.
-Ainda não.
-Eu sei... Ele acabou de sair daqui.
Nervosa, ela questionou:
-Mas como assim?
Sem paciência, respondi:
-Olha aqui, minha filha... Você precisava de um motivo para adicionar no processo, e isso eu acabei de te ajudar a conseguir.
-Você está sendo pago pra isso.
-Fiz o que estava ao meu alcance. Se você não está satisfeita, faça melhor então.
-Abusado!
-Talita... Não sou burro, nem vem querendo me fazer pressão. Sei muito bem que o fato do Leonardo não ir buscar as crianças no horário pode muito bem ser usado contra ele no processo. Portanto, não me venha com lorotas, porque sou muito mais experto do que você imagina.
Sabendo que não estava lhe dando com um leigo, ela baixou a bola e amansou a fera habitante de seu interior:
-O que você fez para que ele atrasasse?
-Mantive ele dormindo até tarde.
-Não creio que você foi tão amador a ponto de dar um "boa noite Cinderela" nele. Esqueceu que o Leonardo é médico? - Disse debochando.
-Não seja imbecil. Até preparei um chá que minha mãe fazia, mas ele não quis. É obvio que não apelaria para outros meios.
-Tá certo...
-Agora é com você. Minha parte eu já fiz.
-Entendo, mas ainda é pouco. Preciso de mais...
-Vou preparar e assim que tiver algo concreto, te comunico.
-Seja rápido.
-Tenha uma boa tarde!

A Talita era muito folgada. Ela deveria me agradecer um pouco mais, pois não era nada fácil ter que conviver com aquele insuportável do Leonardo, que além de fresco, era paranoico pelos filhos.


Próximo capítulo:  | Nem funcionário escapa |
Dia 15/03



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