| O pedido sincero |
Três semanas se passaram. Durante esse tempo, por insistência do Leonardo eu li
alguns livros para poder fazer o vestibular e agradá-lo. Sua preocupação comigo
às vezes chegava a comover-me, pois nem minha mãe cobrou-me tanto como ele.
Deitado no sofá, folheava Dom Casmurro quando o telefone tocou:
-Clau?
-Oi mãe!
-Como cê
tá?
-Bem e a
senhora?
-Estou na
mesma...
-A
senhora me deixa preocupado falando assim.
-Não
fique não...
-Quer que
eu vá até ai ficar com a senhora?
-Não
precisa, filho.
-Então vem
passar alguns dias aqui comigo em São Paulo?
-Eu?
-É...
-Mas
Clau... São Paulo é muito grande, tenho medo.
-Medo de
quê?
-Não
sei...
-Então
pense e depois me dê a resposta.
-Tá bão.
-Mas
pense com carinho.
-Sim.
-Tenho
uma novidade pra te contar.
-Qual?
-Vou
voltar a estudar.
-Quem
bom, meu filho!
Percebi que a notícia deixou-a emocionada, incentivando-me ainda mais para
continuar meus estudos. O Leonardo havia incentivando-me a fazer um cursinho
preparatório antes do vestibular, mas não vi necessidade. Embora eu não
gostasse muito de estudar, sempre fui autodidata. Aprendi sozinho o nome de
todas as capitais do Brasil, depois de ganhar um velho Atlas de uma velhinha na
fila do posto de saúde. A partir de então, passei a ler vários livros e frequentar
a biblioteca, até me perder com as más companhias.
Depois que desliguei o telefone, mal dei um passo a frente para que tocasse
novamente.
Inferno! Quem seria
dessa vez?
-Alô?
-Acabei
de ficar sabendo do descuido de vocês. - Disse a Talita ironizando.
-Do que
você está falando, sua maluca?
-Hoje a
Cláudia comentou sobre vocês dois dormindo abraçadinhos...
-Caraca!
Mas já?
-Pois é,
meu querido.
-E agora,
o que você pensa em fazer?
-Já fiz.
Adicionei no processo e já pedi pra intimarem ela como testemunha a meu
favor...
-Tô vendo
que esse processo é mais complicado do que eu pensava.
-Isso já
não é problema seu.
-Você tem
razão. Tchau.
Malcriada! Nem sei por
que eu ainda lhe dava atenção. Pra falar a verdade, eu já não aguentava mais
aquela palhaçada, e precisava dar um rumo em minha vida. Enquanto não
encontrava nada melhor, teria que continuar aguentando aquela pistoleira, mas
todas as humilhações que me fez passar não deixaria barato.
Entrei no banheiro, e ainda de roupa banhei-me naquela água fria, tentando
encontrar-me de algo perdido dentro de mim mesmo. Meu peito estava angustiado,
apertado, como se eu estivesse submerso em uma profunda piscina, sem poder
respirar nem gritar, apenas esperar para morrer, morrer lentamente, tomado por
uma dor que só aumenta.
Com a toalha enrolada à
cintura, deixei o banheiro, tremendo. Antes de a desenrolar, ouvi três toques à
porta soarem, sinal que o Emerson fazia quando ia encontrar-me escondido em
seus intervalos.
-Tudo
bem? -
Perguntou entrando em casa com o olhar desconfiado.
-Tudo sim
e com você?
-Melhor
agora.
Agarrando-me, puxou minha toalha e tapou minha boca com um molhado beijo. O que
antes pra mim era excitante, tornou-se normal, necessitando de algo diferenciado
para me deixar com tesão, pois suas pegadas, cheiro e beijo já haviam caído na
rotina.
Com meu corpo todo nu, o prendi entre a parede, e em pouco tempo seu uniforme
já se misturava ao carpete da sala, espalhados naqueles pequenos metros quadrados.
Sobre minha cama nos
esfregávamos, porém, os pelos de suas pernas estavam incomodando-me. Percebendo
que algo não me agradava, o Emerson interrompeu o que estávamos fazendo e
perguntou ofegante:
-O que
está havendo?
-Os pelos
da sua perna estão me fazendo cócegas.
-Ué...
Você nunca reclamou... - Respondeu tentando encontrar o problema que não existia.
-Mas
agora eu estou reclamando.
Levantando-se da cama, continuou falando:
-Você
anda meio estranho... Frio...
-Impressão
sua.
-Não, não
é. Faz algum tempo que venho notado seu afastamento, cada vez mais longe...
Antes, a gente trepava com muito mais vontade, você beijava minha boca
diferente... Hoje não é mais assim...
-Você
também mudou.
-Eu
mudei?
-Sim...
Você não morde mais minha orelha, nem meu pescoço como antes.
Pegando sua calça do chão, o Emerson disse nervoso:
-Pois
é... É porque eu nunca mordi sua orelha...
-O
Leonardo morde minha orelha e chupa meu pescoço.
-Só que
você esqueceu que eu não sou o Leonardo.
Quando ele fez aquela observação, percebi que eu realmente estava cobrando dele
algo que nunca havia recebido. Esperava do Emerson um comportamento que não era
seu, o deixando constrangido por não corresponder aos meus estímulos como antes.
Vestindo sua camisa, ele falou:
-Vou
deixar você descansar sua cabeça um pouco... Espero que da próxima vez que nos
encontrarmos, você se concentre apenas em nós dois.
Ao sair, bateu a porta. Ainda sem roupa, encolhi-me à cama e fiquei pensando no
que ele havia dito, o achando o cara mais chato do mundo. Embora eu
recriminasse sua reação, sei reconhecer o quanto errei em cobrar uma atitude
que não fazia parte do seu jeito de ser. Caramba! Se arrependimento matasse, eu
já estaria morto.
Vestindo apenas uma cueca, liguei a TV e fique assistindo ao jornal. No relógio
do meu celular marcavam sete da noite, e três minutos depois ele tocou, ou
melhor, vibrou como um louco.
-Alô?
-Boa
noite! Por favor, poderia falar com o dono dos meus sonhos?
-Dono dos
seus sonhos?
-Uhum...
-Acho que
você ligou errado.
-Não
liguei não... Sei que esse telefone é de um cara muito especial.
Até aquele momento eu não havia reconhecido que era o Leonardo, pelo menos até
ele colocar de fundo a música que marcou nosso primeiro beijo.
-Seu
bobo!
- Exclamei surpreso.
-Eu
pensei que você já soubesse que eras o dono dos meus sonhos.
-Disso eu
ainda não sabia.
-Mas
agora já está sabendo.
-Sim,
estou.
-Quero
você pronto em vinte minutos.
-Para
quê?
-É
surpresa!
-Tá bom.
-Daqui a
pouco estou passando ai pra te buscar.
-Beleza.
Desliguei o telefone e fui vestir uma roupa. Levei mais de dez minutos para
decidir o que iria usar, pois sair com o Leonardo exigia um pouco de
sofisticação, pelos lugares que gostava e costumava frequentar.
Foram vinte minutos cravados que se passaram, e o telefone voltou a tocar.
-Já está
pronto?
-Sim,
estou.
- Respondi calçando o tênis.
-Então
desce que estou aqui embaixo lhe esperando.
-Tá.
Sua pontualidade às vezes chegava a me irritar, mas naquele dia eu estava de
bom humor, mesmo tendo o pequeno desentendimento com o Emerson.
Abri à porta do carro. Entrei desconfiado, esperando coisas boas e ruins, pois
quem não deve não teme, assim dizia minha mãe.
-Boa
noite!
- Exclamou o Leonardo colocando um CD pra tocar.
-Boa
noite.
- Respondi dando-lhe um selinho.
-Pensei
que você não viria mais.
-Exagerado!
Desci assim que você me ligou...
Olhando fixamente pra mim, o Leonardo falou esboçando um leve sorriso:
-Adoro
ver você com cara de bravo, sabia?
-Cuidado,
hein... Não provoca muito que eu fico bravo.
-E eu
adoro!
Começamos a nos beijar. A rua estava deserta, pouco movimento. Os vidros
escuros garantiam nossa privacidade, enquanto nos curtíamos sem nos preocupar
com o passar do tempo, tornando eterno cada troca de caricia, mordida, abraço.
Pegando em minha mão o Leonardo espirou através do para-brisa e exclamou olhando
pro céu:
-Veja que
luar bonito!
-Já vi...
Está bonito mesmo.
Nesse momento passou uma estrela cadente. Era linda! Apontei para ela e falei:
-Veja...
Uma estrela cadente!
-Faça um
pedido pra ela...
-Um
pedido?
-É...
Faça um desejo que, segundo antigas crenças, eles se realizam.
-Tá.
Fechamos os olhos e, em silêncio, cada um fez o seu. Eu nunca acreditei nessas
idiotices, pois quando era criança, pedi uma vez para nunca mais passar forme
na vida, no entanto, passei por dificuldades posteriores, prova de que não deu
certo.
Curioso, o Leonardo quis saber:
-E ai...
O que você pediu?
-Não vou
dizer... É segredo!
-Então tá...
Dando-lhe um abraço, perguntei falando em seu ouvido:
-E
você... O que pediu?... Se não quiser falar não tem problema.
-Não sou
um homem de segredos.
Aquela resposta foi praticamente um tapa na cara, mas claro que com toda
elegância da qual o Leonardo raramente deixava de usar.
-Eu pedi
para que você me ame tanto quanto eu te amo. - Respondeu com as mais sinceras e
doces palavras.
-Que
lindo!
Coitado! Se ele soubesse que eu só estava esperando receber o restante da grana
combinada para cair fora e sumir pra sempre, certamente teria feito outro
pedido. Por um momento senti-me o cara mais sujo do mundo, indigno de tudo que
estava acontecendo. Afinal, eu não era de todo ruim.
Curioso, quis saber:
-Para
onde você vai me levar?
-É
segredo.
-Não
gosto muito de surpresas.
-Mas
dessa você vai gostar, tenho certeza.
Confesso que já entrei
no carro morto de curiosidade. Todas às vezes que recebi uma surpresa, foram
coisas ruins, como a morte do meu pai, por exemplo. Não sei dizer o motivo, mas
estava sentindo-me estranho, angustiado, com vontade de chorar. Pensava em
minha mãe, em dinheiro, lembranças do meu pai. Tudo vinha ao mesmo tempo
mexendo com meu emocional, mas claro, eu não deveria me abalar.
Naquela noite o
Leonardo estava todo perfumado, olhar enigmático, cheio de mistérios. No banco
de trás do carro havia uma mala, aparentemente lotada de coisa devido ao grande
volume.
Enquanto estávamos parados no semáforo, perguntei curioso:
-Você vai
viajar?
-Não. Por
quê?
-Então
por que aquela mala enorme?
-Ah! Faz
parte da surpresa. -
Respondeu com um leve sorriso safado.
Caramba! Que surpresa
era aquela que ele não revelava nem por decreto? Se fosse alguma coisa ligada
ao financeiro eu iria adorar, claro, pois dinheiro nunca era demais.
Finalmente parte do enigma começou a ser revelado quando entramos em um luxuoso
motel. Delícia! Comecei a empolgar-me. Nunca tinha visto antes tanta
sofisticação em um ambiente como aquele.
Paramos na recepção. Enquanto ele pedia a suíte, eu observava o ambiente. E que
ambiente! Logo na entrada havia uma cachoeira enorme, que descia sobre pedras e
arbustos. A iluminação contribuía ainda mais para incrementar o cenário, nos
dando prazer aos olhos.
-Um
motel?
- Questionei maravilhado.
-Uhum... - Murmurou o Leonardo
acelerando o veículo após cruzarmos à recepção.
-Caraca!
Por fora o lugar era
espetacular, parecia um castelo medieval de verdade. O corredor por onde
passavam os carros era de pedras e com enormes estátuas que desenhavam um
antigo território de batalhas.
Acionando o fechamento
do portão eletrônico, o Leonardo subiu à escada em direção à suíte, carregando
aquela enorme mala e dizendo:
-Conta no
seu relógio cinco minutos, depois você sobe e toque no interruptor, mas não
acenda a luz.
Sem entender, questionei:
-Pra quê?
-Não faça
muitas perguntas. Siga apenas minhas orientações.
-Tudo
bem. “Só espero que isso valha realmente a pena.” - Pensei.
Cinco minutos se
passaram. Subi à escada como ele havia pedido e entrei no quarto. O ambiente
estava parcialmente escuro, deliciosamente perfumado.
Abri à porta e toquei o interruptor. Lá havia um bilhete, e nele estava
escrito:
Deite na cama e abra a
gaveta do criado mudo.
Inicialmente achei engraçado, mas contive meu humor e fiz o que lá pedia.
Deitei-me à cama e abri a gaveta, onde encontrei outro bilhete que dizia:
Aperte o botão do
painel escrito DISCO, e depois aperte o PLAY do CD player.
Procurei no painel
pelos botões que o bilhete indicava e o apertei. Nesse momento luzes começaram
a piscar e uma agitada música tocava. Que coisa linda! De frente para a escada,
avistei um belo e delicioso marinheiro descendo aqueles degraus e seguindo em
minha direção.
A suíte possuía dois
andares. No superior, uma enorme cama dividia uma bela decoração com um pequeno
palco, que fazia parte da discoteca particular. Além de desenhos temáticos nos
espelhos, uma linda e grande banheira dava um toque a mais, com uma cascata
feita de pedras que começava do teto e ia até o chão.
De óculos escuros e uma
algema na mão, o Leonardo caminhou até mim e prendeu-me à cama. Uau, que tesão!
Aquela surpresa era muito melhor e mais excitante do que eu pensava,
revelando-se um verdadeiro profissional na arte do amor.
Deixando escapar um sorriso de canto, questionei:
-O que você está fazendo?
Sussurrando ao meu
ouvido, respondeu:
-Amor!
Nossa! Quase derreti naqueles lençóis quando ouvi aquela declaração. Deitado,
conseguia mover meu corpo, porém, as mãos estavam limitadas parcialmente por
conta das algemas. Eu estava adorando tudo aquilo, deixando-me louco de desejo.
Enquanto flash's e luzes eram
lançados sobre aquele pequeno palco, o Leonardo dançava para mim, da forma mais
linda e sensual que alguém pode mostrar. Que loucura! Comecei a suar. O jeito
com que ele mexia o quadril era perfeito, arrancando suspiro de qualquer um que
gostasse de homens bonitos e charmosos. Resistir foi difícil, aliás, era quase
impossível, se não fossem as mãos presas à cama.
No auge da música o
Leonardo tirou sua camisa, jogando-a sobre mim. Caralho! Excitado era pouco.
Meu pau estava latejando, duro como rocha. Foi difícil segurar. Com movimentos
pélvicos ele agredia minha imaginação com tanto tesão. Sua pegada forte apertou
minhas pernas, desabotoando minha calça e fazendo-a deslizar com um rústico
movimento.
O volume em minha cueca não negava meu desejo. Esfregando seu corpo ao meu, o
Leonardo continuava dançando, pirando minha cabeça. Sinceramente eu não sabia
que ele tinha esse outro lado fantasioso e gostoso, fazendo-me ficar ligadão,
subindo pelas paredes.
Estralando de tesão,
disse a ele:
-Não
sabia que você dançava tão gostoso assim...
-Há
muitas coisas sobre mim que você não conhece...
-E como
faço pra conhecer?
-Eu vou
te mostrar...
Nesse momento o Leonardo
tirou minha cueca, deixando-me apenas de camiseta. Caraca, que demais!
Começamos a nos beijar, como se fosse a primeira vez, tamanha sede de explorar
sua boca. Parecíamos dois adolescentes se descobrindo, explorando cada canto em
que nossas bocas, pernas e braços nos permitissem.
Já de corpos nus,
colados, suados, nos beijávamos sem parar. O que eu senti naquele momento
jamais havia sentido. Foi uma sensação inexplicável, indescritível, mas que
levou-me ao céu. Meu coração acelerou, pensei que iria enfartar.
Após livrar-me das
algemas, fizemos amor gostoso, sexo romântico, mas com uma pitada de safadeza.
Aquela noite superou todas e qualquer outras que já tivemos antes. Qualquer
palavra que eu tentasse encontrar para comparar seria pouco, perto da satisfação
e realização que senti.
Deitados à cama ficamos nos curtindo, juntinhos trocando carícias. Abraçando-me
por trás, o Leonardo acariciava meu braço e cabelo, enquanto conversávamos
sobre experiências passadas:
-Claus...
Esse nome é russo, alemão?
-Não, é
um erro mesmo.
-Erro?
-É... Na
verdade meu nome era pra ser Cláudio, mas meu pai quando foi me registrar
estava bêbado e não soube pronunciar Cláudio, ai a mulher do cartório registrou
conforme entendeu.
-Hahaha...
Não acredito!
-Nem
minha mãe acreditou... Eles ficaram quase seis meses sem se falar por isso, mas
vendo que não tinha mais jeito, minha mãe resolveu deixar pra lá...
Abraçando-me mais forte, perguntou após um suspiro:
-Você já
amou alguém, Claus?
-Eu?
-É...
-Bem...
Pra não dizer que não, eu já me apaixonei uma vez sim... Mas não foi bom.
-Por quê?
-Não fui
correspondido... Eu tinha dezesseis anos e ela quinze. Conhecemo-nos na escola,
na aula de educação física... Começamos a namorar, e a paixão foi surgindo... Sonhava
com ela quase todas às noites, namorávamos no portão da casa dela, era muito
bom...
-Que
legal!
-É...
Nossa primeira vez foi no sítio dos pais dela... Estávamos conversando deitados
na rede da varanda, e surgiu uma troca de olhares tão profunda entre nós que
não conseguimos segurar. Fugimos para o estábulo e... Fizemos.
-Uau!
-Foi
lindo, perfeito!
-Sua
primeira vez?
-Não, mas
a dela foi...
-E por
que não deu certo?
-Porque
ela foi embora com um cara...
-Embora?
-É. Fugiu
de casa com ele, deixando um bilhete dizendo que estava totalmente apaixonada.
-Putz!
Deve ter sido muito duro pra você.
-Realmente,
foi muito ruim. Mas nada como o tempo pra nos fazer superar tudo...
-Você tem
razão.
Pela primeira vez
tivemos uma conversa sincera, onde abri parte da minha vida cujo nunca havia
feito antes a ninguém. Senti-me aliviado, possuído por uma força jamais sentida
antes. Era uma sensação diferente, não sei explicar, só sei dizer que sentir
era muito bom.
-Minha
primeira paixão foi a Talita.
-A mãe
dos seus filhos?
-Uhum... Conhecemo-nos
em uma festa de réveillon... Era a mulher mais linda da festa, olhar tímido,
voz doce... Namoramos por dois anos e depois nos casamos. A cerimônia parecia
um conto de fadas, mais de trezentos convidados...
-Que da
hora!
-Passamos
nossa lua de mel em Ilhéus, e quando voltamos, recebi a noticia de que ela
estava grávida da Giovana... Me lembro até hoje daquele dia, o dia mais feliz
da minha vida.
-Imagino...
-Quando a
Giovana tinha três anos, a Talita engravidou do Artur... Mas dessa vez ela fez
de propósito.
-Por quê?
-Porque
nosso casamento não ia muito bem... Estávamos cogitando em nos separar, mas pra
tentar me segurar um pouco mais, ela não encontrou outra forma.
-Que
burra! Mas por que vocês estavam querendo se separar?
-Somente
eu queria, ela não... Com a convivência, fui conhecendo da Talita um outro lado
que ela não mostrou ter enquanto namorávamos...
Segundo alguns especialistas, a insatisfação com o casamento é proporcional ao
tempo de existência da relação, aparentemente não sendo um estado transitório a
infelicidade. Conforme aumenta a duração do casamento, o descontentamento
matrimonial tende a aumentar. Experiências clínicas têm mostrado que os dois
primeiros anos que sucedem à separação é o período mais crítico.
Diversos fatores podem contribuir para o fim do vínculo conjugal, e os mais
frequentes são as diferenças de filosofias, valores, personalidades; além de
problemas de comunicação, expectativas não atendidas, frustrações sexuais, diminuição
da cumplicidade.
Os sentimentos
negativos encontrados com maior frequência são: tristeza, isolamento,
ansiedade, solidão, insegurança, culpa, medo entre outros. Há aqueles que se
decepcionam por criar expectativas irrealistas sobre casamento, acúmulo de
raiva com relação e atitudes do outro, esperança que algo de ruim um dia mude.
-O que
você não gostou?...
- Perguntei alisando seu peito.
-Ciúme
obsessivo... Teve uma vez que ela invadiu meu escritório com ciúme de uma
paciente.
-Fazendo
escândalo?
-Quase
armou um barraco, querendo quebrar tudo.
-Nossa!
-E quando
ela descobriu que eu já tinha ficado com homem na minha adolescência, ai
começaram os tormentos, querendo transformar minha vida num verdadeiro inferno.
-Mas por
quê?
-Ela
disse que eu a enganei, mas não é verdade. Não vi necessidade de contar isso
porque fez parte do meu passado...
-Entendo.
Aceitar a separação como algo definitivo é encarado com dificuldade tanto para
os pais quanto para os filhos. Hoje em dia é menos doloroso ajustar-se à
separação, pois nossa cultura vem tornando-se cada vez mais liberal e aceitando
a dissolução conjugal, tendo a família de apenas um pai ou uma mãe.
Não havendo mais acordo sobre a forma de educar os filhos nem a estrutura
familiar, o mínimo acontecimento, por mais irrelevante que seja, pode tornar-se
motivo de brigas.
Um indício de que o casamento chegou ao fim é a infidelidade, pois mostra um
estado de incerteza e insatisfação com relação ao outro. Quando a consciência da
situação precária se torna mais visível, ambos começam a questionar o sentido
de prolongar uma relação fundamentada em bases tão vulneráveis.
Apertando-me um pouco mais, o Leonardo continuou:
-Pelo
tempo em que ficamos casados sempre a respeitei, mas ela não se conforma, acha
que foi trocada por um homem.
-Você
nunca traiu ela?
-Nunca!
Se eu a escolhi para fazer parte da minha vida, é porque somente ela me
bastava.
-Que
caráter!
-Assim
como você me basta.
- Disse abraçando-me mais forte.
-Vocês
não possuem uma relação amistosa então?
-Não que
eu não queira, mas sim porque ela declarou guerra contra mim e está nessa
sozinha, porque eu não vou retribuir com suas picuinhas. Às vezes eu tento
dialogar com ela, mas simplesmente pelos nossos filhos. A única coisa que eu
quero, é a guarda das crianças.
-Mas por
que você não os deixa com ela? É a mãe deles...
-A Talita
é uma péssima mãe. Se não é a babá pra cuidar deles durante a semana, meus
filhos ficariam largados.
-Que
horror!
-Ela não
liga pras crianças, nunca teve paciência para elas.
-Então
por que ela quer a guarda deles?
-Porque
sabe que meus filhos são o que eu mais amo nessa vida, e para se vingar, ela é
capaz de qualquer coisa...
-Nossa!
A Talita não havia me
contato esse detalhe, que por sinal, faziam muita diferença. Logo percebi que
algo de errado havia, pois eu não conseguia encontrar no Leonardo aquele
crápula que ela insistia em pintar.
Acariciando seu braço, perguntei:
-Por que
você proporcionou essa noite justo hoje?
-Porque
hoje é uma data especial pra mim.
-Ah é?
-Sim...
Mesmo você não lembrando, é como se eu tivesse te conhecido ontem, e hoje já
fazem quatro meses que estamos namorando.
Que mancada! Como poderia ter me esquecido da nossa data de namoro? Situações
desse tipo não poderiam acontecer mais, porque colocavam a relação em risco,
mesmo o Leonardo sendo um cara pacífico e tranquilo, a rotina pode levar uma
relação ao cansaço.
Mesmo dando mancada, nossa noite não deixou de ser perfeita. Posso dizer que,
aquela noite foi a melhor noite que já tive na vida, e será lembrada pra
sempre.
Próximo capítulo: | Procurando
por Vera |
Dia 23/03
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