| O filme proibido |
Dois dias se passaram. Para compensar nosso jantar, combinei com o Leonardo
dele ir dormir em casa, pois assim evitaria mais problemas para mim, claro, ao
mantê-lo entretido. Como naquele dia ele iria direto de um congresso de
medicina, provavelmente estaria cansado, e nesse estado costumava fazer todas
as minhas vontades.
Procurei deixar o
ambiente bem romântico, para que quando ele chegasse, ficasse surpreso e
encantado com minha “preocupação” com o clima.
A Talita já estava
pressionando-me por causa do seu vídeo, e se eu não o fizesse naquela noite
poderia não ter outra oportunidade tão breve.
Assim que o Leonardo chegou fui avisado pelo recepcionista, como sempre. O
esperei na sala até tocar à campainha.
-Boa
noite, meu moleque!
Puxando pela sua
gravata o levei até o quarto. Abri à porta e o joguei à cama, sem dar muito
tempo para ele pensar. A cara de safado que o Leonardo fez foi demais, sinal de
que entrou fácil no clima.
Fechei à porta. Apoiei
o joelho esquerdo sobre à cama e disse ao Leonardo fazendo charme:
-Gatão...
-Hum?
-Eu tenho
uma fantasia meio louca, sabe...
-Fantasia?
-É.
-Hum...
Que fantasia?
-Filmar a
gente fazendo sexo.
-Está
louco?
- Questionou parando de me beijar.
-Por quê?
-Se
alguém pegar isso e sair espalhando por ai...
-Bobinho...
É só pra gente assistir depois, juntos...
Puxando-me pra perto dele, levei uma chupada no pescoço, em seguida o Leonardo
falou:
-Pega lá
a câmera então...
-Hum...
-Vamos
ter que meter bem gostoso agora, hein? - Falou brincando.
-Pode
deixar.
Posicionei a câmera frente à cama, de maneira que pegasse um extenso campo de
visão, já que ficaria gravando sozinha enquanto atuávamos.
Tiramos à roupa. Apenas de cueca, iniciamos juntos movimentos pélvicos. Tesão!
Minha boca começou a explorar seus pontos mais sensíveis, enquanto o Leonardo
respondia com altos gemidos e fortes apertões.
-Uau!...
Hoje você está com o pique todo... - Elogiou o Leonardo.
-Deve ser
o tesão recolhido.
-Adoro
sentir tesão e poder saciá-lo...
-Então
aproveita agora que temos a noite toda pra se curtir.
-Opa!
Safado! Aquele seu fogo parecia nunca terminar. Transamos por horas, até
descarregar a bateria da máquina. Minhas pernas já estavam moles, querendo dar
cãibra. Pela minha pele restaram o suor e as marcas de seus dedos, chupadas.
Fizemos sexo romântico,
selvagem, violento, exótico. Abusamos da criatividade, com o único propósito de
alcançar o prazer e uni-lo à satisfação. Nossos corpos estavam melados de
lubrificante, enquanto o chão recebera um segundo tapete por conta das
embalagens de camisinhas espalhadas por toda parte.
Enquanto o Leonardo dormia, fechei à porta do quarto e fui até a sala telefonar
pra Talita, que só me atendeu após o sexto toque do telefone:
-Nossa!...
Pensei que não ia atender...
-Eu sou
mãe. Tenho dois filhos pequenos pra cuidar.
-Cuidar?
Hahaha...
-Não
entendi o motivo do deboche.
-Corta
essa, Talita... Você nem liga pra essas crianças. Quem cuida deles é a babá.
-Você é
muito abusado, sabia?
-Nada
disso. Sou realista, apenas.
-Diga
logo para que você me ligou?
Diminuindo o tom de voz, falei:
-Acabei
de fazer um vídeo.
-E eu com
isso?
-É que o
vídeo é do ser ex-marido transando comigo, mas pelo visto você não deve estar
lembrada que havia me pedido, melhor apagar da câmera.
Berrando, ela disse:
-Se você
fizer isso, está morto.
-Ui!...
Você não era assim... Violenta.
-Mande-me
esse vídeo imediatamente por correio eletrônico.
-Não
posso.
-Por quê?
-Porque o
Leonardo vai saber quem foi que mandei...
-Certo...
E você já tem algum outro emprego em vista?... Creio que não seja muito
confortável dormir nas calçadas de concreto de São Paulo... Bem, vou ligar na
recepção do flat e pedir...
Interrompi:
-Não!...
Eu mando pra você.
-Ficarei
no aguardo.
-Tá...
-Tchau!
Pra ser sincero eu estava pouco me importando, pois até o Leonardo descobrir
que eu fui o responsável pelo envio do vídeo, já estaria bem longe de sua vida.
Voltei ao quarto, peguei o computador portátil e fui passar o vídeo para minha
área de trabalho, em seguida anexei ao e-mail
e encaminhei pra jararaca da Talita.
Adormeci logo depois e só acordei com meu celular escandalizando as oito e meia
da manhã do dia seguinte:
-Alô?
-Estou
passada com o que vi.
-Do que
você está falando?
-Do vídeo
que você me mandou.
-Ah!
-Vou
mandar pro meu advogado.
-Pra
conseguir filmar isso não foi fácil convence-lo.
-Como?
-Eu tive
que pedir pra ele antes de fazer, né?
-Mas pra
que pedir pra ele? Você poderia muito bem deixar filmando escondido.
-E qual
seria a desculpa que eu daria depois, caso viesse descobrir? Acha que sou
idiota, Talita?
-Bom,
você é bem mais esperto do que eu pensava.
-Não
subestime minha inteligência.
-Tá bom,
lindinho. Agora estou indo trabalhar, tá? Nos falamos depois.
-Certo.
-Beijocas.
Se a Talita fizesse alguma crítica quanto ao que eu havia enviado pra ela,
certamente a mandaria tomar no cú, pois agradar aquela bandida era uma tarefa
muito difícil, pra não dizer milagrosa.
Ao levantar-se, o Leonardo foi direto tomar banho, e claro que fui fazer
companhia. Sexualmente nos dávamos muito bem. Nossos corpos se entendiam, tudo
se encaixava, e nossas peles respondiam. Pelo menos nessa parte não era tão
sacrificante a convivência, mas não poderia dizer a mesma coisa quanto a
companhia.
Tudo estava na santa paz, até ele tocar no assunto VERA.
-Estou
preocupado...
-Com o
quê? -
Questionei tirando o xampu do cabelo.
-Com a
Vera.
-Ainda
essa mulher?
-Como
assim? Ela é minha empregada, quase membro da família...
-Desculpa...
Mas ela não deu notícias?
-Não.
-Sinceramente,
acho que ela caiu fora.
-Do que
você está falando?
-Se eu
fosse você, faria uma geral em casa pra ver se não está faltando nada.
Inconformado, falou:
-Não
acredito que ela tenha roubado nada de casa e fugido!
-Leo...
As pessoas são imprevisíveis. Não podemos sair por ai confiando em qualquer um. - Falei acariciando
sua face.
-Mas será
que ela fez isso mesmo?
-Teria
algum outro motivo pra desaparecer?
-Creio
que não.
-Então...
Ainda bem que estou do seu lado, pra te proteger de qualquer um que quiser te
fazer mal.
-Eu amo
você, sabia?
-Ama?
-Sim.
Começamos a nos beijar. Aquela foi a primeira vez que ele disse me amar, e
provavelmente ele não estava brincando. Confesso que minha intenção inicial não
era essa, talvez aquele sentimento pudesse atrapalhar meus planos, mas por
outro lado poderia até ajudar, pois um homem apaixonado é capaz de qualquer
coisa.
Já vestido, passava um pouco de gel em seu cabelo quando me questionou:
-Você vai
sair hoje?
-Não sei,
por quê?
-Por
nada, foi só uma pergunta.
-Entendi.
Você quer almoçar comigo?
-Não vou
poder. Tenho que correr pra clínica, pois tenho três consultas agora à tarde.
-Que
pena.
-Talvez a
gente possa jantar, já que a Cíntia não está em casa hoje.
-Podemos
combinar amanhã.
-Beleza.
Marcaremos também um cinema.
-Vou
adorar!
-Bem,
deixa eu ir... Amanhã te ligo depois do banco.
-Já vai
pagar mais contas?
-Não...
Vou levar uma obra de Tarsila do Amaral para guardar no cofre.
-Eu não
sabia que você tinha obras de arte em casa.
-Tenho
algumas, mas essa é minha favorita e eu não estou a fim de ter prejuízos, além
do mais pela falta de segurança que está esse mundo...
-Você faz
bem.
-Antes de
ir, deixa eu fazer o “número um”. - Falou seguindo em direção ao banheiro.
Pra mim foi novidade o fato do Leonardo ser colecionador daquele tipo de arte,
e claro, avistei uma oportunidade e tanta de forjar um plano que deixasse a
Vera como vilã da história. Aquela era a grande oportunidade de jogar a culpa
em alguém que não fosse eu, tirando-me da mira de qualquer suspeita.
Enquanto ele estava no banheiro, peguei a chave de sua casa que estava sobre a
mesa e guardei comigo. Que audácia! Levando em consideração que o Leonardo não
iria passar em casa tão cedo, só daria conta da falta delas horas depois,
dando-me tempo suficiente para “aprontar”.
-Estou
indo...
- Disse ele caminhando em direção à porta.
-Tchau.
-Beijo.
Fechei à porta. Corri até a varanda e fiquei espiando até o perder de vista.
Pronto! Eis a oportunidade de praticar um delito. Sem que eu me desse conta,
estava transformando-me em um criminoso, corrompido por algumas centenas de
reais.
Peguei meu carro e segui até sua casa. Eu não tinha muito tempo, sendo assim,
tive que ser breve para não ser pego com a boca na botija.
Entrei pela porta da cozinha e subi correndo até seu quarto. Casa vazia,
silêncio total. Com medo que os alarmes disparassem, caminhei na ponta dos pés,
olhando atentamente a localização das câmeras de monitoramento.
Eu não sabia onde o
Leonardo havia guardado aquele quadro, obrigando-me a vasculhar sua casa à
procura, começando pelo seu quarto. O medo de ser pego no flagra fazia-me
tremer sem parar, deixando a camisa molhada de suor.
O Leonardo era tão previsível que não foi difícil encontrar o que eu procurava.
Logo ao abrir o guarda-roupa avistei uma enorme capa ao fundo de suas camisas
penduradas ao cabide. Tomando cuidado, tirei-a de onde estava, sem desarrumar
suas camisas. Descolei o vélcro e lá estava, preservada como uma joia, com todo
cuidado.
Separei-a no canto próximo à porta de sua suíte. Chequei se tudo permaneci no
seu devido lugar, dessa forma não levantaria suspeitas aparentes.
Desci à escada
apressado, levando aquele quadro embaixo do braço, que por sinal, era bem
pesadinho. Coloquei o quadro sobre o banco traseiro do carro e deixei aquela
enorme casa vazia.
Voltei ao flat e tratei de subir pelo
elevador de serviço, pois dessa forma a chance de ser visto com a prova do
crime era bem menor. Que peso! Meu braço direito já estava dolorido, quase
causando cãibra.
Inseri o cartão à porta
e empurrei-a com o pé. Antes de entrar, olhei para os lados e não havia
ninguém. Colocando minha carteira sobre à mesa, corri pro quarto e escondi
aquele quadro embaixo da cama. Ufa! Livre de qualquer ameaça, por enquanto.
Sentei-me à cama e soltei um suspiro de alívio. Aquela correria toda havia me deixado
super cansado, principalmente o peso daquele trambolho enorme. Minha cabeça
doía um pouco, mas isso era o de menos se comparado com meus músculos do braço
e as costas.
Tirava o tênis quando a campainha tocou. Caraça, que susto! Quem seria? Eu não
esperava ninguém, e o Leonardo ainda deveria estar em sua clínica pelo horário.
Caminhei até a sala com cuidado, nas pontas dos pés. Olhei através do olho
mágico e avistei o Emerson, deixando-me aliviado, ao mesmo tempo, puto.
-Oi?
-Tudo
bem? Posso entrar?
-Pode.
-Bateu a
saudade e resolvi vim te ver...
-Bem...
Hoje não estou num bom dia. - Respondi fechando à porta.
-O que
você tem?
-Um pouco
de dor de cabeça.
-Isso
passa logo, deixa eu te dar um trato. - Falou puxando-me para perto dele.
Começamos a nos beijar. Depois que o Emerson descobriu o outro lado da
sexualidade, não me deixava mais em paz. Claro que na maioria das vezes eu não
o dispensava, pois sempre o achei gostosinho, mas pra ser sincero, eu só o
queria para satisfazer minhas vontades apenas.
Em pouco tempo já
estávamos no quarto, nus sobre a cama transando como dois animais selvagens
procurando o auge do prazer.
Abraçados, puxei-o para mais junto de mim dizendo:
-Se sua
noiva descobre que você também curte rapazes...
-Eu não
curto rapazes, tô curtindo você, cara.
-Vai me
dizer que ainda não saiu com nenhum outro carinha além de mim?
-Não...
Por enquanto você está sendo o primeiro, e não penso em outros.
-Se você
diz, não tenho por que duvidar.
Permanecemos ali por quase uma hora, suados, nus. Sinceramente, eu não tinha
planos algum de ser o primeiro e único cara da vida do Emerson, principalmente
porque não tinha planos de permanecer ali por muito tempo.
Levantando-se da cama ele falou:
-Preciso
ir, mano...
-Beleza.
-Se der,
durante meu horário de pausa eu dou uma passada aqui na madruga.
-Mas
telefone antes para saber se estou acordado.
-Tá
bom... Esse quadro é seu? - Questionou pegando sua cueca do chão.
Levantei-me imediatamente.
-É... Não
mecha nele.
-Nossa!
Desculpa...
-Você não
tem o direito de xeretar o que não é chamado.
-Já pedi
desculpa... Não fique bravo comigo.
- Tudo
bem.
Inferno! Parecia castigo da vida, pois lutei tanto para não ser visto com aquela
peça durante todo o caminho, e justo onde achei que estaria seguro, aquele
imbecil foi bisbilhotar onde não devia.
Fechei à porta puto da vida. Embora o Emersom não tivesse como ter visto
nitidamente do que se tratava, mais tarde poderia dar com a língua nos dentes,
sendo assim, logo aquele quadro deveria desaparecer, caso contrário eu estaria
ferrado.
Quando eu vestia a cueca, meu celular começou a tocar:
-Alô!
-Oi
moleque.
-Tudo
bem?
-Não
muito... Veja se minha chave ficou ai na sua casa?
-Ué...
Perdeu sua chave?
-Não
lembro de ter perdido, talvez eu tenha esquecido ai na sua casa.
-Deixa eu
ver, um momento.
Como eu planejava, o Leonardo ligou perguntando da chave. Na mosca! Afastei-me
um tempo do telefone para fingir uma possível procura por ela, voltando logo
depois dizendo:
-Achei!
Estava em cima da mesa...
-Ufa!
Estou indo ai buscar.
-Tá bom.
-Beijos.
Desliguei o telefone e vesti uma roupa comportada para esperá-lo. Embora eu
tivesse guardado bem a prova do crime, restou o receio, pois como minha mãe
costumava dizer: Quem deve, teme.
-Boa
noite! -
Exclamou aparentemente apressado.
-Boa
noite! Eaí, vamos jantar?
-Putz,
acho que não vai dar.
- Falou levando a mão à cabeça.
-O que
houve?
-A Talita
me ligou dizendo que o Artur está com febre alta. Preciso dar uma passada lá
pra ver como ele está.
-Entendo...
A gente combina outro dia então.
-Vamos ao
zoológico no final de semana?
-Por mim
tudo bem.
-Fechado.
-Vou
indo. Beijo.
-Beijo!
Depois que ele foi embora fiquei pensando em uma desculpa para não ir naquele
passeio idiota. O que eu faria em um lugar onde só tinha animais, com aqueles
dois diabinhos que nos deixavam de cabelos em pé?
Alguns dias se passaram e durante esse tempo não consegui criar uma desculpa
convincente para recusar o convite antes aceito. Caralho! Aquela árdua função
era mais difícil do que eu pensava. A família, ou melhor, meia família da
Talita era muito complicada, muito perfeita, resumindo: chata demais. Eu precisava
dar um jeito de cair fora logo daquela família de loucos.
Próximo capítulo: | Pic Nic no Zoo |
Dia 20/03
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