sábado, 19 de março de 2016

LIVRO: PROFISSÃO AMANTE - CAPÍTULO 15





 | O filme proibido |

            Dois dias se passaram. Para compensar nosso jantar, combinei com o Leonardo dele ir dormir em casa, pois assim evitaria mais problemas para mim, claro, ao mantê-lo entretido. Como naquele dia ele iria direto de um congresso de medicina, provavelmente estaria cansado, e nesse estado costumava fazer todas as minhas vontades.
Procurei deixar o ambiente bem romântico, para que quando ele chegasse, ficasse surpreso e encantado com minha “preocupação” com o clima.
A Talita já estava pressionando-me por causa do seu vídeo, e se eu não o fizesse naquela noite poderia não ter outra oportunidade tão breve.
            Assim que o Leonardo chegou fui avisado pelo recepcionista, como sempre. O esperei na sala até tocar à campainha.
-Boa noite, meu moleque!
Puxando pela sua gravata o levei até o quarto. Abri à porta e o joguei à cama, sem dar muito tempo para ele pensar. A cara de safado que o Leonardo fez foi demais, sinal de que entrou fácil no clima.
Fechei à porta. Apoiei o joelho esquerdo sobre à cama e disse ao Leonardo fazendo charme:
-Gatão...
-Hum?
-Eu tenho uma fantasia meio louca, sabe...
-Fantasia?
-É.
-Hum... Que fantasia?
-Filmar a gente fazendo sexo.
-Está louco? - Questionou parando de me beijar.
-Por quê?
-Se alguém pegar isso e sair espalhando por ai...
-Bobinho... É só pra gente assistir depois, juntos...
            Puxando-me pra perto dele, levei uma chupada no pescoço, em seguida o Leonardo falou:
-Pega lá a câmera então...
-Hum...
-Vamos ter que meter bem gostoso agora, hein? - Falou brincando.
-Pode deixar.
            Posicionei a câmera frente à cama, de maneira que pegasse um extenso campo de visão, já que ficaria gravando sozinha enquanto atuávamos.
            Tiramos à roupa. Apenas de cueca, iniciamos juntos movimentos pélvicos. Tesão! Minha boca começou a explorar seus pontos mais sensíveis, enquanto o Leonardo respondia com altos gemidos e fortes apertões.
-Uau!... Hoje você está com o pique todo... - Elogiou o Leonardo.
-Deve ser o tesão recolhido.
-Adoro sentir tesão e poder saciá-lo...
-Então aproveita agora que temos a noite toda pra se curtir.
-Opa!
            Safado! Aquele seu fogo parecia nunca terminar. Transamos por horas, até descarregar a bateria da máquina. Minhas pernas já estavam moles, querendo dar cãibra. Pela minha pele restaram o suor e as marcas de seus dedos, chupadas.
Fizemos sexo romântico, selvagem, violento, exótico. Abusamos da criatividade, com o único propósito de alcançar o prazer e uni-lo à satisfação. Nossos corpos estavam melados de lubrificante, enquanto o chão recebera um segundo tapete por conta das embalagens de camisinhas espalhadas por toda parte.
            Enquanto o Leonardo dormia, fechei à porta do quarto e fui até a sala telefonar pra Talita, que só me atendeu após o sexto toque do telefone:
-Nossa!... Pensei que não ia atender...
-Eu sou mãe. Tenho dois filhos pequenos pra cuidar.
-Cuidar? Hahaha...
-Não entendi o motivo do deboche.
-Corta essa, Talita... Você nem liga pra essas crianças. Quem cuida deles é a babá.
-Você é muito abusado, sabia?
-Nada disso. Sou realista, apenas.
-Diga logo para que você me ligou?
            Diminuindo o tom de voz, falei:
-Acabei de fazer um vídeo.
-E eu com isso?
-É que o vídeo é do ser ex-marido transando comigo, mas pelo visto você não deve estar lembrada que havia me pedido, melhor apagar da câmera.
            Berrando, ela disse:
-Se você fizer isso, está morto.
-Ui!... Você não era assim... Violenta.
-Mande-me esse vídeo imediatamente por correio eletrônico.
-Não posso.
-Por quê?
-Porque o Leonardo vai saber quem foi que mandei...
-Certo... E você já tem algum outro emprego em vista?... Creio que não seja muito confortável dormir nas calçadas de concreto de São Paulo... Bem, vou ligar na recepção do flat e pedir...
            Interrompi:
-Não!... Eu mando pra você.
-Ficarei no aguardo.
-Tá...
-Tchau!
            Pra ser sincero eu estava pouco me importando, pois até o Leonardo descobrir que eu fui o responsável pelo envio do vídeo, já estaria bem longe de sua vida.
            Voltei ao quarto, peguei o computador portátil e fui passar o vídeo para minha área de trabalho, em seguida anexei ao e-mail e encaminhei pra jararaca da Talita.
            Adormeci logo depois e só acordei com meu celular escandalizando as oito e meia da manhã do dia seguinte:
-Alô?
-Estou passada com o que vi.
-Do que você está falando?
-Do vídeo que você me mandou.
-Ah!
-Vou mandar pro meu advogado.
-Pra conseguir filmar isso não foi fácil convence-lo.
-Como?
-Eu tive que pedir pra ele antes de fazer, né?
-Mas pra que pedir pra ele? Você poderia muito bem deixar filmando escondido.
-E qual seria a desculpa que eu daria depois, caso viesse descobrir? Acha que sou idiota, Talita?
-Bom, você é bem mais esperto do que eu pensava.
-Não subestime minha inteligência.
-Tá bom, lindinho. Agora estou indo trabalhar, tá? Nos falamos depois.
-Certo.
-Beijocas.
            Se a Talita fizesse alguma crítica quanto ao que eu havia enviado pra ela, certamente a mandaria tomar no cú, pois agradar aquela bandida era uma tarefa muito difícil, pra não dizer milagrosa.
            Ao levantar-se, o Leonardo foi direto tomar banho, e claro que fui fazer companhia. Sexualmente nos dávamos muito bem. Nossos corpos se entendiam, tudo se encaixava, e nossas peles respondiam. Pelo menos nessa parte não era tão sacrificante a convivência, mas não poderia dizer a mesma coisa quanto a companhia.
            Tudo estava na santa paz, até ele tocar no assunto VERA.
-Estou preocupado...
-Com o quê? - Questionei tirando o xampu do cabelo.
-Com a Vera.
-Ainda essa mulher?
-Como assim? Ela é minha empregada, quase membro da família...
-Desculpa... Mas ela não deu notícias?
-Não.
-Sinceramente, acho que ela caiu fora.
-Do que você está falando?
-Se eu fosse você, faria uma geral em casa pra ver se não está faltando nada.
            Inconformado, falou:
-Não acredito que ela tenha roubado nada de casa e fugido!
-Leo... As pessoas são imprevisíveis. Não podemos sair por ai confiando em qualquer um. - Falei acariciando sua face.
-Mas será que ela fez isso mesmo?
-Teria algum outro motivo pra desaparecer?
-Creio que não.
-Então... Ainda bem que estou do seu lado, pra te proteger de qualquer um que quiser te fazer mal.
-Eu amo você, sabia?
-Ama?
-Sim.
            Começamos a nos beijar. Aquela foi a primeira vez que ele disse me amar, e provavelmente ele não estava brincando. Confesso que minha intenção inicial não era essa, talvez aquele sentimento pudesse atrapalhar meus planos, mas por outro lado poderia até ajudar, pois um homem apaixonado é capaz de qualquer coisa.
            Já vestido, passava um pouco de gel em seu cabelo quando me questionou:
-Você vai sair hoje?
-Não sei, por quê?
-Por nada, foi só uma pergunta.
-Entendi. Você quer almoçar comigo?
-Não vou poder. Tenho que correr pra clínica, pois tenho três consultas agora à tarde.
-Que pena.
-Talvez a gente possa jantar, já que a Cíntia não está em casa hoje.
-Podemos combinar amanhã.
-Beleza. Marcaremos também um cinema.
-Vou adorar!
-Bem, deixa eu ir... Amanhã te ligo depois do banco.
-Já vai pagar mais contas?
-Não... Vou levar uma obra de Tarsila do Amaral para guardar no cofre.
-Eu não sabia que você tinha obras de arte em casa.
-Tenho algumas, mas essa é minha favorita e eu não estou a fim de ter prejuízos, além do mais pela falta de segurança que está esse mundo...
-Você faz bem.
-Antes de ir, deixa eu fazer o “número um”. - Falou seguindo em direção ao banheiro.
            Pra mim foi novidade o fato do Leonardo ser colecionador daquele tipo de arte, e claro, avistei uma oportunidade e tanta de forjar um plano que deixasse a Vera como vilã da história. Aquela era a grande oportunidade de jogar a culpa em alguém que não fosse eu, tirando-me da mira de qualquer suspeita.
            Enquanto ele estava no banheiro, peguei a chave de sua casa que estava sobre a mesa e guardei comigo. Que audácia! Levando em consideração que o Leonardo não iria passar em casa tão cedo, só daria conta da falta delas horas depois, dando-me tempo suficiente para “aprontar”.
-Estou indo... - Disse ele caminhando em direção à porta.
-Tchau.
-Beijo.
            Fechei à porta. Corri até a varanda e fiquei espiando até o perder de vista. Pronto! Eis a oportunidade de praticar um delito. Sem que eu me desse conta, estava transformando-me em um criminoso, corrompido por algumas centenas de reais.
            Peguei meu carro e segui até sua casa. Eu não tinha muito tempo, sendo assim, tive que ser breve para não ser pego com a boca na botija.
            Entrei pela porta da cozinha e subi correndo até seu quarto. Casa vazia, silêncio total. Com medo que os alarmes disparassem, caminhei na ponta dos pés, olhando atentamente a localização das câmeras de monitoramento.
Eu não sabia onde o Leonardo havia guardado aquele quadro, obrigando-me a vasculhar sua casa à procura, começando pelo seu quarto. O medo de ser pego no flagra fazia-me tremer sem parar, deixando a camisa molhada de suor.
            O Leonardo era tão previsível que não foi difícil encontrar o que eu procurava. Logo ao abrir o guarda-roupa avistei uma enorme capa ao fundo de suas camisas penduradas ao cabide. Tomando cuidado, tirei-a de onde estava, sem desarrumar suas camisas. Descolei o vélcro e lá estava, preservada como uma joia, com todo cuidado.
            Separei-a no canto próximo à porta de sua suíte. Chequei se tudo permaneci no seu devido lugar, dessa forma não levantaria suspeitas aparentes.
Desci à escada apressado, levando aquele quadro embaixo do braço, que por sinal, era bem pesadinho. Coloquei o quadro sobre o banco traseiro do carro e deixei aquela enorme casa vazia.
            Voltei ao flat e tratei de subir pelo elevador de serviço, pois dessa forma a chance de ser visto com a prova do crime era bem menor. Que peso! Meu braço direito já estava dolorido, quase causando cãibra.
Inseri o cartão à porta e empurrei-a com o pé. Antes de entrar, olhei para os lados e não havia ninguém. Colocando minha carteira sobre à mesa, corri pro quarto e escondi aquele quadro embaixo da cama. Ufa! Livre de qualquer ameaça, por enquanto.
            Sentei-me à cama e soltei um suspiro de alívio. Aquela correria toda havia me deixado super cansado, principalmente o peso daquele trambolho enorme. Minha cabeça doía um pouco, mas isso era o de menos se comparado com meus músculos do braço e as costas.
            Tirava o tênis quando a campainha tocou. Caraça, que susto! Quem seria? Eu não esperava ninguém, e o Leonardo ainda deveria estar em sua clínica pelo horário.
            Caminhei até a sala com cuidado, nas pontas dos pés. Olhei através do olho mágico e avistei o Emerson, deixando-me aliviado, ao mesmo tempo, puto.
-Oi?
-Tudo bem? Posso entrar?
-Pode.
-Bateu a saudade e resolvi vim te ver...
-Bem... Hoje não estou num bom dia. - Respondi fechando à porta.
-O que você tem?
-Um pouco de dor de cabeça.
-Isso passa logo, deixa eu te dar um trato. - Falou puxando-me para perto dele.
            Começamos a nos beijar. Depois que o Emerson descobriu o outro lado da sexualidade, não me deixava mais em paz. Claro que na maioria das vezes eu não o dispensava, pois sempre o achei gostosinho, mas pra ser sincero, eu só o queria para satisfazer minhas vontades apenas.
Em pouco tempo já estávamos no quarto, nus sobre a cama transando como dois animais selvagens procurando o auge do prazer.
            Abraçados, puxei-o para mais junto de mim dizendo:
-Se sua noiva descobre que você também curte rapazes...
-Eu não curto rapazes, tô curtindo você, cara.
-Vai me dizer que ainda não saiu com nenhum outro carinha além de mim?
-Não... Por enquanto você está sendo o primeiro, e não penso em outros.
-Se você diz, não tenho por que duvidar.
            Permanecemos ali por quase uma hora, suados, nus. Sinceramente, eu não tinha planos algum de ser o primeiro e único cara da vida do Emerson, principalmente porque não tinha planos de permanecer ali por muito tempo.
            Levantando-se da cama ele falou:
-Preciso ir, mano...
-Beleza.
-Se der, durante meu horário de pausa eu dou uma passada aqui na madruga.
-Mas telefone antes para saber se estou acordado.
-Tá bom... Esse quadro é seu? - Questionou pegando sua cueca do chão.
            Levantei-me imediatamente.
-É... Não mecha nele.
-Nossa! Desculpa...
-Você não tem o direito de xeretar o que não é chamado.
-Já pedi desculpa... Não fique bravo comigo.
- Tudo bem.
            Inferno! Parecia castigo da vida, pois lutei tanto para não ser visto com aquela peça durante todo o caminho, e justo onde achei que estaria seguro, aquele imbecil foi bisbilhotar onde não devia.
            Fechei à porta puto da vida. Embora o Emersom não tivesse como ter visto nitidamente do que se tratava, mais tarde poderia dar com a língua nos dentes, sendo assim, logo aquele quadro deveria desaparecer, caso contrário eu estaria ferrado.
            Quando eu vestia a cueca, meu celular começou a tocar:
-Alô!
-Oi moleque.
-Tudo bem?
-Não muito... Veja se minha chave ficou ai na sua casa?
-Ué... Perdeu sua chave?
-Não lembro de ter perdido, talvez eu tenha esquecido ai na sua casa.
-Deixa eu ver, um momento.
            Como eu planejava, o Leonardo ligou perguntando da chave. Na mosca! Afastei-me um tempo do telefone para fingir uma possível procura por ela, voltando logo depois dizendo:
-Achei! Estava em cima da mesa...
-Ufa! Estou indo ai buscar.
-Tá bom.
-Beijos.
            Desliguei o telefone e vesti uma roupa comportada para esperá-lo. Embora eu tivesse guardado bem a prova do crime, restou o receio, pois como minha mãe costumava dizer: Quem deve, teme.
-Boa noite! - Exclamou aparentemente apressado.
-Boa noite! Eaí, vamos jantar?
-Putz, acho que não vai dar. - Falou levando a mão à cabeça.
-O que houve?
-A Talita me ligou dizendo que o Artur está com febre alta. Preciso dar uma passada lá pra ver como ele está.
-Entendo... A gente combina outro dia então.
-Vamos ao zoológico no final de semana?
-Por mim tudo bem.
-Fechado.
-Vou indo. Beijo.
-Beijo!
            Depois que ele foi embora fiquei pensando em uma desculpa para não ir naquele passeio idiota. O que eu faria em um lugar onde só tinha animais, com aqueles dois diabinhos que nos deixavam de cabelos em pé?
            Alguns dias se passaram e durante esse tempo não consegui criar uma desculpa convincente para recusar o convite antes aceito. Caralho! Aquela árdua função era mais difícil do que eu pensava. A família, ou melhor, meia família da Talita era muito complicada, muito perfeita, resumindo: chata demais. Eu precisava dar um jeito de cair fora logo daquela família de loucos.




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Dia 20/03



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